quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pequena Pena

Gabriele Greggersen

Uma pluma chamada Pena voava livre, leve e solta, navegando pelos ares, como se gravidade não houvesse. Seu colorido exuberante devia todo à ave mãe, da qual tragicamente se desprendera num dia cheio de dor e saudade.

Nesse vai e vem, entre dias de sol e de chuva fraca a torrencial, nada lhe arrancava do peito a imagem da ave mãe. A lembrança dos dias bons que passava grudada no corpo quentinho dela fazia-a ladear abismos, cruzar desertos escaldantes e encarar tormentas. A lembrança da ave-mãe era a razão do viver de Pena. Ela era a luz que dava sentido e rumo ao seu efêmero percurso.

Certo dia, quando fazia o seu vôo matinal, Pena deparou com outra pluma, de cores meio acinzentadas. Antes mesmo de Pena poder aproximar-se dela, ambas foram atingidas por uma tempestade e bombardeadas por pesadas gotas até caírem numa enorme e fedorenta sarjeta.

A outra pluma bufava e esperneava:

- Como é duro ser pluma! – queixava-se. - Preferia ser pedra. Pelo menos não penava tanto. Odeio tudo isso!

Pena muito se espantou com aquela atitude e indagou a colega:

- Mas isso não te traz à lembrança a sua ave mãe que te gerou e cuidou de ti por tanto tempo e quanta falta lhe faz? A saudade às vezes é um santo remédio.

Mas a pluma, nada entendendo, e de cara fechada e magoada, mergulhou de vez no lamaçal para nunca mais...

- Que pena! - pensou Pena – A ave mãe dela deve ter sido um urubu ou ave de rapina, coitada.

Depois que o sol despontou secando-a, Pena sacudiu a poeira e foi novamente levantada pelo vento. Findas mais algumas horas, avistou outra pluma aproximando-se, toda alegre, a rodopiar e dar piruetas acrobáticas pelos ares.

Na verdade o horizonte para onde ela ia estava repleto de nuvens negras amedrontadoras; raios e trovões de dar medo.

Depois de se apresentar, Pena perguntou:

- Estás alegre assim, por quê?

- Por que não estaria? - retrucou ela sem parar de se remexer.

- Ora, não estás vendo aquelas nuvens? É melhor nos abrigarmos em algum lugar seguro. Se não, sua alegria poderá acabar em muita dor.

- Dor? O que é isso? Ah, você se refere àquelas histórias da carochinha que contam para os pequeninos? Isso não passa de balela. Não existe dor, não vês? Vamos, pense positivo e viva a vida!

Antes que Pena pudesse abrir a boca, lá se foi ela, rodopiando pelos ares até desaparecer no horizonte.

Que pena! - Ela pensou mais uma vez e seguiu seu rumo à procura de abrigo.

Passada a tempestade, continuou a navegar e navegar dia após dia. É claro que Pena teve vários outros encontros e situações alegres e felizes; ou duras e amedrontadoras. Mas sempre as aproveitava para não perder a oportunidade de lembrar-se da sua adorada Ave-mãe e falar sobre ela aos outros.

Até que num belo dia, pousou numa lagoa bem mansa. Depois de lembrar pela última vez da ave mãe e agradecê-la, finalmente afundou.

Que pena!

Não de Pena, pois esta finalmente estava em paz, na Terra de Quem criou a Ave-mãe e assim, a ele. A pena é pela história, que chegou ao fim.

Quem olha assim para Pena e seu trajeto, só pode concluir: Valeu apena, ah, valeu!

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Nota: Essa história é dedicada ao dedicado pessoal da Universidade Aberta do Brasil (UAB) do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC), com todo o carinho e estima.


2 comentários:

  1. Linda a História!
    temos muito a aprender com Pena.
    Posso postar a história em meu blog?

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  2. Oi Tina,

    Como já te autorizei por e-mail, claro que pode colocar no seu blog.

    Ah, e antes tarde do que nunca, postei mais alguns contos meus. Espero que goste...

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