domingo, 20 de setembro de 2009

A educação como desafio
por Daniel Barbosa Dos Santos

Vivemos hoje o mundo da desconstrução. Aquilo que até então era válido e dito como certo não tem mais razão de ser. E esta quebra está em tudo: na vida política, social, econômica, na ciência, enfim, em todas as esferas. Refiro-me á lição 29, página 268, onde o tema abordado é a pós-modernidade.
Como encarar este mundo de constantes mudanças? Onde há religioso ateu, a ciência se contradizendo, políticos sem ideologia (aqui expresso como conjunto de idéias), famílias com diferentes arranjos, economistas perdido nos números, informações incessantes e o mundo sem utopia. Todos juntos e ao mesmo tempo separados.
È o começo? È o recomeço? È o apocalipse, é o fim? Não. È apenas um momento histórico. O momento em que as forças desencadeadas pelo homem fugiram do controle do mesmo e o domina. E o mesmo homem que programou a máquina é agora programado por ela. E pior torna-se apêndice dela. No dizer de Marx “ ela cria um mundo à sua própria imagem”. Em momento algum o mundo sofreu tantas transformações como o nosso tempo. E também em momento algum as pessoas precisarão força para buscar um caminho como os dias de hoje, e este caminho tramita pela reflexão. Será que ainda refletimos? Sim. E a reflexão é o que pode nos conduzir à educação.
Assim, educação e filosofia são etapas de um mesmo processo: a busca pelo conhecimento. Quando falamos em educação imediatamente vem à nossa mente a idéia de edifícios, professores e alunos, enfim, tecnocratas e alunos. Modelo padrão no ensino regular. Mas para tratar deste assunto devemos primeiramente recorrer à filosofia, mas a qual filosofia? Àquela que nos orienta a compreender tal objeto. Portanto, abordar o tema educação implica em primeira instância entender o quê, quando, onde e como ocorre, lição 1, página 8. Assim, o papel do educador deve ser antes de tudo o papel de um filósofo. E como bem definiu Guimarães Rosa quando diz que o filósofo “é aquele que se encontra num quarto escuro à procura de um gato preto que não está lá. E ele o encontra...”, Como filósofo o educador deve procurar na educação o tal gato preto e como educador deve sair com o gato e com o educando do tal quarto escuro. Pois não basta somente interpretar, mas transformar e transformar interpretando.

Para Karl Marx "Os filósofos até hoje se preocuparam apenas em interpretar o mundo; trata-se, porém, de transformá-lo". A sua idéia está correta, a filosofia não transforma o mundo, mas também não é papel da mesma transformá-lo, cabe a ela interpretá-lo, torná-lo desafiador, pois vivemos no mundo da ideologia, no sentido da teoria crítica Frankfurtiana que considera “a ideologia como uma ideia, discurso ou ação que mascara um objeto, mostrando apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades”.
E para transformá-lo, precisamos de imaginação. Podemos definir a imaginação como algo transformador. É sabido que tudo que o homem toca se transforma, para o bem ou para o mal, mas se transforma. Assim sendo queremos a transformação construtora, de um aluno questionador, reivindicador e problematizador do mundo e para isso teremos que ser além de educador e filósofo, artista: para encantar e seduzir. Como disse Rubem Alves “O professor é um sedutor. “Professor é aquele que abre o apetite, que cria o desejo de aprender”. Esta é a nossa missão perante um mundo que não sabe por onde seguir e nem se deve seguir.
E esta tentativa da reflexão, da sedução e ação transformadora é papel que cabe á educação. Pois sabemos pelas nobres palavras de Paulo Freire que “a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa”.
E para fechar podemos entender este momento de instabilidade, insegurança e medo; como o momento onde as pessoas poderão ter a “imaginação sociológica”. uma consciência da relação entre o indivíduo e a sociedade mais ampla. A junção entre a biografia e o mundo.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Contagem regressiva para o Narnia Day

Já tem compromisso para o sábado, dia 12.09.2009?

Taí uma ótima, inédita e imperdível pedida para você, amigos e toda a família da 8 aos 80, apreciadores do mundo mágico de Nárnia.

Organizado pelo site Mundo Nárnia, a Editora Martins Fontes, e a Saraiva Megastore (Shopping Ibirapuera), vem aí o Pirmeiro "Narnia Day"!

Mais informações em:

http://www.mundonarnia.com/portal/narniaday

Vejo vocês por lá!

Aslan is on the move!!!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Re-significando a Avaliação na Cibercultura

Gabriele Greggersen

Resumo:
A realidade cibernética que vivemos hoje reivindica repensarmos uma série de conceitos e práticas na educação. Na educação, a avaliação é um dos termômetros das contradições e dificuldades no processo de mudança de culturas, paradigmas, projetos pedagógicos e tecnologias empregadas. É na Educação à Distância que esse clima se expressa com maior nitidez. Esse artigo pretende estimular a reflexão teórica e prática sobre a avaliação na Educação a Distância (EaD), em contraponto às praticas avaliativas nos cursos presenciais.

Palavras-chave:
Avaliação, Educação a Distância (EaD), Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)

Introdução:
A avaliação sempre foi um desafio em qualquer época ou campo. Na educação ela costuma representar o momento mais tenso para professores, alunos e pessoal, dadas as exigências acirradas de apresentação de resultados quantificáveis o que contrasta com as novas possibilidades abertas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
A Educação a Distância (EaD) traz no seu bojo um elemento complicador. Se no mundo real é difícil quantificar aspectos muitas vezes subjetivos do aprendizado, no “ciberespaço” isso é ainda mais complicado, dadas as imprevisibilidades e ambigüidades dessa modalidade. Nunca se sabe ao certo quem está na outra “ponta”, quais suas intenções, valores, potencialidades, como vai reagir a determinado assunto ou metodologia, etc., por mais que se interaja virtualmente com ele. Não que a dificuldade seja uma exclusividade da EaD, porém, ela se torna mais intensa.
Antes de tudo é preciso explicitar os conceitos envolvidos. Lemos no dicionário Michaelis da Língua Portuguesa que cibernética “é o estudo e técnica do funcionamento e controle das conexões nervosas nos organismos vivos, máquinas de calcular e dos comandos eletromagnéticos em autômatos, cérebros eletrônicos, aparelhos teleguiados etc. À cibernética contribuem a neurofisiologia, a eletrotecnia, a termodinâmica, a estatística e, especialmente, o cálculo operacional.”
Já para “cibercultura” estaremos nos valendo da definição de um dos seus maiores estudiosos, Pierre Levy (1999, p. 17), que a descreve como sendo: "o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço".
Entretanto, o que vemos na prática, que se reflete de forma quase direta na avaliação, é a primazia das técnicas sobre as demais dimensões. Mesmo os modernos paradigmas da “aprendizagem por competências”, dos “ambientes colaborativas” ou “ambientes voltados para o objeto”, que se pretendem sócio-construtivistas, acabam sendo usados para reprodução dos mesmos problemas que se observa no ensino presencial.
Ao invés de uma diversificação e pluralidade, o que se observa, principalmente no que diz respeito à avaliação, é uma perda da singularidade do educando, em prol da massificação e desterritorialização, engendrada pela confiança cega na eficiência das TIC´s para provocar o aprendizado e “medi-lo”.
Acrescenta-se a isso, a busca por atitudes e competências como critérios de avaliação, já adotados em todos os níveis do ensino, em especial no que diz respeito ao planejamento e à formação de professores, como maneira de fazer frente às mudanças cada vez mais velozes das TIC´s. A grande pergunta é, em que medida os professores realmente internalizaram esse paradigma? E ele pode ser considerado o mais adequado para a realidade brasileira.
A pedagogia das competências muito se inspira em Perrenoud (2000), que fala das delas como algo desenvolvido de forma criativa no momento propício. Também os “Parâmetros Curriculares Nacionais” (PCN) estão repletos da palavra “competências”.
Entretanto, as políticas públicas não vêm corroborar essa tendência. Desde pelo menos os anos 90, pressionado, tanto pelo Plano Decenal da Educação, quanto pela LDB 9394/96 e acordos internacionais, como o da Educação para Todos , o governo vem implantando novas e inovadoras maneiras de avaliar, destituindo as escolas de exclusividade nessa prerrogativa. A partir daí criou-se um sistema de avaliações externas, realizadas por encarregados do governo, a começar pelo Ensino Superior. Mais recentemente, a idéia de avaliação passou a ser substancialmente atrelada a sistemas da burocracia governamental, que assumiram um papel mais fiscalizador, do que propriamente avaliador e muito menos, educativo.
Ninguém poderia imaginar, à época, o desconforto gerado com a implantação dessas “avaliações externas”, como a que passou a ser aplicada aos alunos dos últimos anos dos cursos de bacharelado, chamado de provão. Mas logo se notou o efeito negativo que essa palavra desencadeava entre professores e alunos, dada precisamente essa carga de significação já atrelada à famigerada prova. Em conseqüência, decidiram substituir a assustadora palavra por uma singela sigla, ENADE, que quer dizer Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes .
Com os problemas identificados no ensino superior, deduziu-se que sua origem devia encontrar-se nos níveis anteriores da educação. Com isso, resolveu-se criar mais algumas siglas singelas. Os ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) , provas aplicadas aos alunos de ensino médio, e o SAEB (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) .
Para esclarecer melhor o sentido dessas novas ferramentas avaliativas, lê-se no portal do MEC:
A exemplo do que já ocorre com os alunos do ensino fundamental e do ensino médio, as crianças de seis a oito anos também serão avaliadas na escola. Portaria do Ministério da Educação cria a Provinha Brasil, instrumento de aferição do desempenho escolar a ser implantado nos municípios e no Distrito Federal. Com a Provinha, o MEC pretende verificar se os alunos da rede pública são efetivamente alfabetizados aos oito anos. Se isso não ocorrer, serão criadas as condições para corrigir o problema, com aulas de reforço. A meta do MEC é que nenhuma criança chegue à quarta série do ensino fundamental, aos nove ou aos dez anos, sem domínio da leitura e da escrita, como ocorre hoje em muitos municípios. A Provinha Brasil, que será voluntária para os municípios, deve ser aplicada pelo professor. Ela avaliará os conhecimentos adquiridos pelos estudantes nos três anos iniciais do ensino fundamental, que compreende o ciclo de alfabetização. Para que os gestores municipais entendam o funcionamento da Provinha e seus objetivos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) vai distribuir um caderno de orientações e definir critérios para a participação das redes públicas.

Temos hoje aí ainda um intrincado cabedal de siglas e ramificações do que o governo, através do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Pedagógicas), propõe como sistema de avaliação alegadamente capaz de avaliar todas as instâncias educativas numa espécie de rede. A origem provável foi a necessidade de adaptação a uma tendência global, que pressiona os seus “integrantes” a participarem de um complexo emaranhado de programas nacionais e internacionais, aos quais teve que se adaptar: Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), e outros programas ligados à UNESCO, À ONU, e ao Banco Mundial, principalmente ao BIRD (Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento) que o integra e outros órgãos encarregados de avaliar a educação por todo o mundo. Passam, assim, a servir como “termômetro” da segurança para investimentos e linhas de créditos internacionais.
O ainda recente Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) é um dos mais recentes órgãos de avaliação da educação superior. Trata-se de um sistema federal de avaliações externas das Instituições de Ensino Superior (IES). Ele envolve visitas de comissões de professores encarregados de servir de “emissários” do INEP, os chamados “avaliadores ad hoc” in loco (no local). Não é preciso mencionar o verdadeiro clima de pavor que as tais visitas geram nas instituições visitadas.
Faria (2005) elucida que essa “onda avaliativa” não é exclusiva da educação e traça um quadro histórico e crítico dessas novas tendências avaliativas em todo o sistema de gestão pública no Brasil e mundo.
Então, as teorias ou paradigmas educacionais de hoje contradizem o que se pratica nas escolas que pouco ou nada participam dessas “ondas”, fato muitas vezes encoberto pelo carimbo de eficiência e eficácia das TIC´s.
Um exemplo disso é o uso dos PowerPoint e do retroprojetor para veicular aulas que muitas vezes diferem de uma aula expositiva pelo simples uso da imagem aos fundos do magister dixit ao invés da tradicional lousa.
Mas é na avaliação, que tais contradições se acirram. E na EaD, a tendência é de seguir o mesmo rumo, quando vemos a avaliação sendo reduzida à resposta a questões de múltipla escolha, mesmo no caso de assuntos altamente subjetivos.
Um dos maiores especialistas brasileiros em artigo recente, Moran (2009), após enumerar essas possibilidades de maneira ampla e detalhada, baseada na sua experiência como avaliador de cursos do INEP, aponta como um dos maiores problemas da EaD no Brasil (entre outros), que embora as IES estejam aprendendo rapidamente:
...os modelos costumam caminhar para certa simplificação, um nível de exigência menor que o inicial, diante de demandas grandes. A avaliação presencial tende a ser feita na forma de prova, em geral de múltipla escolha, o que levanta dúvidas se esse instrumento é eficaz para verificar a aprendizagem significativa. O argumento de alguns responsáveis por EAD é que no presencial também acontece a banalização do ensino e que é difícil avaliar milhares de alunos simultaneamente com provas dissertativas. As críticas ao presencial mal feito não eximem a EAD de tentar formas de avaliação mais formativas do que somativas e conteudísticas.

Certamente muito dessa situação deve-se à herança dos primeiros cursos a distância, em geral técnicos, que seguiam a chama “instrução programada” e do tecnicismo que a aplicação das TIC´s pode vir a favorecer, se não passar pelo crivo do debate amplo e crítico-reflexivo.
Raramente se avalia “no processo” ou se apresentam propostas de avaliação dissertativas ou holísticas ou de auto-avaliação, que tão bem combinam com as possibilidades reais oferecidas pelos ambientes de aprendizado virtual e suas ferramentas.
No artigo acima, depois de um interessante quadro de como a EaD vem influenciando o ensino presencial e vice-versa, Moran conclui:
Reconhecendo as inúmeras vantagens da educação a distância, continuo preocupado com os modelos da maioria dos cursos focados, tanto a distância como presenciais, mais no conteúdo do que na pesquisa; na leitura pronta mais do que na investigação e em projetos. O ensino superior, tanto no presencial como no a distância, reproduz, ainda, um modelo inadequado para a sociedade da informação e do conhecimento, onde nos encontramos. Com as tecnologias cada vez mais rápidas e integradas, o conceito de presença e distância se altera profundamente e as formas de ensinar e aprender também. Estamos caminhando para uma aproximação sem precedentes entre os cursos presenciais (cada vez mais semi-presenciais) e os a distância. Os presenciais começam a ter disciplinas parcialmente a distância e outras totalmente a distância. E os mesmos professores que estão no presencial-virtual começam a atuar também na educação a distância. Teremos inúmeras possibilidades de aprendizagem que combinarão o melhor do presencial (quando possível) com as facilidades do virtual.

A suposição de que a EaD não passa do ensino seja tradicional, seja tecnicista, incrementado pela tecnologia infelizmente torna desmotivantes as perspectivas da EaD e muitos professores se sentem impotentes diante das muitas novidades e novos desafios, novas siglas, para as quais estão despreparados. Tendem assim a encará-las simplesmente como ameaçadoras ou modas passageiras. Muitos optam, assim, por esperar a tempestade passar com as cabeças enfiadas na areia e a consciência de que ela não passará tão cedo.

1. Arqueologia da palavra
Se consultarmos o dicionário Aurélio, descobriremos que avaliação é, antes de tudo, um "ato" e que, somente por isso já envolve uma dimensão inalienavelmente humana. Isso significa que não existe avaliação totalmente neutra, precisa ou infalível, embora o professor e os sistemas de ensino devessem empenhar esforços nesse sentido.
Em segundo lugar, trata-se da "apreciação e análise" de algo ou alguém. E por último, menciona-se o sentido de "valor determinado pelos avaliadores." Ou seja, avaliar não é um meio de “depreciar” e “pressionar” o aluno, através de "pegadinhas" (ou verdadeiras "ciladas") para expô-lo e diminuí-lo ou punir as suas “ignorâncias”, mas um meio para reconhecer o seu valor enquanto ser humano em desenvolvimento.
Assim, o que usualmente se esquece é que a palavra está relacionada em primeira instância a aval, que é sua raiz. Dar o aval significa dar apoio, subscrever, fomentar, incentivar, aprovar. O momento da avaliação é assim o de aferição do valor do que foi aprendido, que ao mesmo tempo reflete a qualidade do que foi ensinado.
No modelo tradicional, ao avaliar, o professor estabelece aquilo que valorizará no aluno, sem a consciência de que ele mesmo também estará implicado no processo, ou seja, o desempenho da sua atuação pedagógica também virá à tona. E ninguém melhor para valorizar o desempenho do professor, do que o aluno. Essa “descoberta” fez com que muitos educadores deixassem de falar meramente em ensino, passando a usar o (processo de) aprendizagem e na EaD, de Ambientes Virtuais de Aprendizagem, pelo que se passou a incentivar a participação efetiva do aluno. Como ressalta Moran no mencionado artigo, a avaliação dos cursos a distância da parte dos alunos tem sido uma das maiores ferramentas de avaliação dos cursos (e dos presenciais, não menos).
Nessa esteira passou-se a valorizar também os Projetos Pedagógicos Institucionais (PPI) e atrelados a eles, “Projetos Político-Pedagógicos” (PPP) que seriam as portas de entrada para um processo de aprendizado mais participativo e assim, mais significativo para todos os envolvidos.
No entanto, mais uma vez, a teoria é muito convincente e parece procedente, mas se esses projetos não forem construídos coletivamente e com base em muita reflexão e debate, tenderão a não passar de versões renovadas dos antigos guias curriculares, que vinham prontos e definidos do MEC para as escolas.

Infelizmente, tudo indica que o tema da avaliação no Brasil continua sendo tratado de forma burocratizante e alienante, em que as soluções tecnológicas sofisticadas são vendidas como “progressistas”, definitivas e infalíveis. Porém, a grande maioria dos educadores fica à margem desses processos, a começar pelo fato de que nunca foram inteirados ou consultados a respeito. Levanta-se assim a suspeita de que eles, os professores, sejam os novos excluídos da atual política de inclusão.

2. As reais dimensões do problema
Antes de quaisquer conclusões precipitadas sobre a realidade da avaliação educacional brasileira, urge consultar as estatísticas recentes. Vamos começar por alguns dados atuais sobre educação. No site do IBGE lemos que:
Em 2000, 5,8 milhões de brasileiros de 25 anos ou mais de idade tinham o curso superior concluído e proporção de brancos com este nível de ensino é cinco vezes maior que a de pretos, pardos e indígenas. A nova publicação temática do Censo 2000 sobre educação revela que, entre a população de 25 anos ou mais de idade (85,4 milhões), 5,8 milhões concluíram o curso superior (graduação, mestrado ou doutorado), o equivalente a 6,8% (Tabela 1.13). Em relação a 1991, o crescimento foi de 17,2%, uma vez que da população de 25 anos ou mais (67,2 milhões), 3,8 milhões (5,8%) eram graduados ou pós-graduados.

O SAEB, de nível federal, realizado em 2005 revela que 43,1% dos alunos do terceiro ano do ensino médio obtiveram notas inferiores a 250, que é o padrão utilizado para a oitava série pela secretária de Estado da Educação de São Paulo. Uma das maiores dificuldades detectadas é com a interpretação de textos, que é uma das habilidades mais desenvolvidas da cognição humana, conforme alguns pensadores como Jean Piaget. Essa incapacidade de entender o texto no seu contexto e de transcendê-lo manifesta-se de forma exemplar na matemática, onde o índice de desempenho também é menos do que satisfatório.
Se deixarmos o ensino particular de fora da estatística, o quadro piora bastante, pois o desempenho de alunos da rede pública é 21,2 % inferior ao da particular. As explicações mais comuns para esse quadro são a falta de remuneração adequada e o excesso de trabalho dos professores, que não deixam de ser fatores interconectados. Uma das explicações para isso é a descontinuidade administrativa, ou seja, as iniciativas são tomadas, mas não são debatidas ou amadurecidas, ultrapassadas e superadas. Outra é que as coisas se definem principalmente no nível da alfabetização, então é necessário avaliar as “competências” desde a mais tenra idade.
Considerando esse cenário, pergunta-se que benefícios as novas tecnologias podem trazer ao combate às desigualdades e à democratização do conhecimento e quais à questão da avaliação? Até que ponto a presença de um computador com acesso à internet, por exemplo, reflete as condições sócio-econômico-político-educacionais reais? Em que medida esses índices refletem a realidade? Por mais que as estatísticas podem e devem ser questionadas, a começar do seu ranço “vestibulando”, esse tipo de levantamento nos convida a uma interpretação, uma leitura e avaliação mais profunda da realidade.
Nesse contexto, a EaD tem surgido como uma alternativa tanto para a melhoria do sistema, para além de suas “heranças” ainda perceptíveis da educação tradicional e tecnicista. E ela já se tem feito sentir nos resultados das avaliações aplicadas nos últimos anos.

3. A situação da EaD no Brasil
Antes de nos debruçarmos sobre o quadro da EaD no Brasil que só está sendo levantado há pouquíssimo tempo, é mister estabelecermos alguns pontos de partida balizadores da discussão. O prof. Moran os sintetizou assim:
As tecnologias de comunicação não mudam necessariamente a relação pedagógica. As Tecnologias tanto servem para reforçar uma visão conservadora, individualista como uma visão progressista. A pessoa autoritária utilizará o computador para reforçar ainda mais o seu controle sobre os outros. Por outro lado, uma mente aberta, interativa, participativa encontrará nas tecnologias ferramentas maravilhosas de ampliar a interação. As tecnologias de comunicação não substituem o professor, mas modificam algumas das suas funções. A tarefa de passar informações pode ser deixada aos bancos de dados, livros, vídeos, programas em CD. O professor se transforma agora no estimulador da curiosidade do aluno por querer conhecer, por pesquisar, por buscar a informação mais relevante. Num segundo momento, coordena o processo de apresentação dos resultados pelos alunos. Depois, questiona alguns dos dados apresentados, contextualiza os resultados, os adapta à realidade dos alunos, questiona os dados apresentados. Transforma informação em conhecimento e conhecimento em saber, em vida, em sabedoria -o conhecimento com ética. O re-encantamento, em fim, não reside principalmente nas tecnologias -cada vez mais sedutoras- mas em nós mesmos, na capacidade em tornar-nos pessoas plenas, num mundo em grandes mudanças e que nos solicita a um consumismo devorador e pernicioso. É maravilhoso crescer, evoluir, comunicar-se plenamente com tantas tecnologias de apoio. É frustrante, por outro lado, constatar que muitos só utilizam essas tecnologias nas suas dimensões mais superficiais, alienantes ou autoritárias. O re-encantamento, em grande parte, vai depender de nós.
O re-encantamento a que o autor se refere tem como pressuposto pelo lado epistemológico e cultural uma re-significação. Já se tem envidado esforços e esperanças para tornar a EaD um repositório sinérgico do uso das TIC, no qual convergem diferentes visões e propostas e metodologias educacionais sob a égide de uma meta comum: o aprimoramento da educação como um todo. Entretanto, a EaD tem sido tratada ora como salvadora da pátria, como se só o desenvolvimento tecnológico trouxesse solução para todos os problemas educacionais; ora, como grande vilã que está sucateando ainda mais o ofício escola, e põe em risco a existência da mesma.
Nesses casos é bom atentarmos para os números e estatísticas, para nos dar uma idéia do que está acontecendo na realidade. Para isso, é necessário antes de tudo conhecer os modelos efetivamente implantados no Brasil. Antes de tudo, como faz Vianney (2008, on line), é preciso considerar que as nossas discussões sobre a natureza e diferenciais da EaD em relação aos cursos presenciais, é tardia, tendo começado sistematicamente com a vinda de profissionais do exterior para o relato de experiências somente a partir do início de 2007. Devemos ainda atentar para a diversidade de modelos que estão sendo aplicados há algum tempo aqui, como vemos no quadro abaixo...

A partir dessa diversidade que pode ocorrer até mesmo no interior de uma mesma instituição, não se trata de simplesmente elaborar estatísticas genéricas, mas de pelo menos considerar esta variável como importante para a avaliação dos resultados obtidos.
Com todas essas ressalvas, é importante observar o comparativo entre o resultado da avaliação do desempenho (ENADE) dos alunos ingressantes dos cursos presenciais e dos cursos a distância e os respectivos concluintes, relativos aos anos de 2005 e 2006...

Ou seja, o
...desempenho dos alunos matriculados nos primeiros semestres de cursos de graduação a distância foi superior em nove de 13 áreas selecionadas, comparativamente aos alunos de cursos presenciais equivalentes. E, quando comparadas as notas obtidas de alunos matriculados nas fases finais dos cursos, a performance dos alunos a distância foi superior em sete das 13 áreas submetidas aos exames, como registram os dois quadros a seguir. As setas na coluna da direita apontam os cursos em que os alunos a distância obtiveram melhor desempenho (idem)....

Se observarmos bem as características de um grupo e outro, haverá uma melhora proporcional à idade em ambos os casos, o que se aplica igualmente praticamente às demais variáveis. O resultado prova ainda que os alunos EaD provenham de famílias menos “educadas”, menos “brancas”, menos abastadas - inclusive no item acesso a computador e internet - e que provém de escola pública, o que poderia colocá-los em desvantagem em relação aos alunos dos cursos presenciais. Outra variável considerada foi a da experiência anterior dos alunos presenciais e a distância com EaD e surpreendentemente ela se provou pouco maior (27,25%) no EaD do que para os alunos presenciais (17,45%).
Isso significa que a relevância do resultado do SAEB se torna ainda mais significativo em favor dos alunos EaD. Quer dizer ainda que a EaD esteja se provando uma alternativa efetiva para a inclusão não apenas educacional, mas também social. É claro que é cedo para ter alguma certeza sobre esse item, que demandaria uma avaliação de ex-alunos, e seu sucesso ou não no mercado de trabalho, o que ainda não é possível devido à amostra ainda não ser significativa, mas os indicativos são positivos e animadores.
Outra dimensão que chamou a atenção nos resultados do ENADE refere-se à coerência da prática pedagógica e o planejamento da escola (matriz curricular, Projeto Pedagógico) e do professor (Plano de Ensino), coisa que sempre foi um dos maiores entraves da educação brasileira. Portanto, ao contrário do que muitos profetizavam, temos aí um considerável avanço na solução de velhos problemas da educação e uma melhoria de sua qualidade no EaD.
Depois de arrolar os dez itens previstos como metas para EaD nos anos 90, que foram efetivamente alcançadas, proporcionando base sólida, ainda que parcial dada a complexidade do objeto, para o investimento ainda mais intensificado nessa modalidade. Não, porém, sob a forma de uniformização de modelos, como por exemplo sob forma semipresencial, uma vez que isso feriria a natureza mesma da EaD, plural, e a letra da constituição federal e outras leis que garantem autonomia às IES. E poderíamos acrescentar ainda, que isso fere igualmente a natureza própria de alunos, professores e todos os envolvidos no processo em seu direito à liberdade e a autonomia.
Devemos, então, reconhecer o esforço do governo brasileiro em buscar soluções para a questão avaliativa, em todos os níveis em que a mesma se manifesta. E a filosofia pode ajudar mais do que se possa imaginar, através do “garimpo” do sentido mais profundo dessa palavra, como procuramos demonstrar.
4. Re-significando a avaliação presencial e a distância
Como já foi frisado, o que dizer de cursos a distância que reduzem a avaliação a questionários objetivos de múltipla escolha e questões tipo CERTO ou ERRADO? Que tipo de avaliação presencial pode ser aplicada nos cursos à distância? Que sentido fazem as provas presenciais nos cursos a distância? Por que não instituir provas a distância nos cursos presenciais? Pois, se admitirmos o que foi dito aqui sobre a identidade em natureza das duas modalidades, essa é uma pergunta válida! A resposta a essa pergunta não é um desafio apenas aos entendidos de informática de apresentarem soluções razoáveis e criativas. Antes de tudo, a ela deve ser feita pelos pensadores e pelos envolvidos nas práticas educacionais, num esforço de re-significação. E tal empenho crítico e criativo certamente abundará em soluções criativas tanto para a avaliação à distância, quanto presencial.
Como bem lembra Luckesi, avaliação é antes de tudo um momento de expressão do amor que se tem pelo aprendizado e pelos sujeitos envolvidos no processo educacional. Para esse educador brasileiro a avaliação é um processo complexo, que envolve uma intencionalidade ou tomada de consciência. Para ser efetiva, ela precisa estar intimamente relacionada a uma atitude de abertura reflexiva e crítica, mais imparcial possível. Deve-se evitar pensá-la como meio punitivo de exercício do poder em sala de aula, repleto de “pegadinhas”, mas como algo que começa desde as bases, já no planejamento:
Assim, planejamento e avaliação são atos que estão a serviço da construção de resultados satisfatórios. Enquanto o planejamento traça previamente os caminhos, a avaliação subsidia os redirecionamentos que venham a se fazer necessários no percurso da ação. A avaliação é um ato de investigar a qualidade dos resultados intermediários ou finais de uma ação, subsidiando sempre sua melhora... Em decorrência de padrões histórico-sociais, que se tornaram crônicos em nossas práticas pedagógicas escolares, a avaliação no ensino assumiu a prática de "provas e exames"; o que gerou um desvio no uso da avaliação... A avaliação necessita, para cumprir o seu verdadeiro significado, assumir a função de subsidiar a construção da aprendizagem bem-sucedida. A condição necessária para que isso aconteça é de que a avaliação deixe de ser utilizada como um recurso de autoridade, que decide sobre os destinos do educando, e assumir papel de auxiliar o crescimento.... Ninguém cresce sem ação e a ação contém dentro de si uma disciplina. Cada um tem sua disciplina própria que necessita ser descoberta e seguida se se quer aprender e crescer com ela. A avaliação é uma forma de tomar consciência sobre o significado da ação na construção do desejo que lhe deu origem. Só a entrega à disciplina do ato permite uma cura, ou seja, a construção satisfatória dos resultados desejados. (Luckesi, 1994, 165-6).

Se a avaliação não se tornar uma via de mão dupla, um processo que envolve atribuição de valor ou apreciação, “estima”, não apenas no sentido de aferição quantitativa, perderá seu sentido essencial.
De ato isolado, a avaliação passa assim a ser visto como um processo contínuo, que exige planejamento, preparação, competência, sabedoria e conhecimento não apenas do conteúdo, mas mais do que isso. Ele encara o educando como ser em formação, tarefa essa que nunca foi fácil ou redutível a questionários e formulários. Para além do instrumento e da medição quantitativa, importa ao professor empenhar amor e dedicação nesse trabalho.
Mesmo porque, como bem formula Demo (1998, 302-3),
...entre quantidade e qualidade há muito mais coisas em comum do que “contrabando”...com a discussão moderna em torno do caos estruturado e da matemática não-linear, ficou clara a limitação marcante de expressões apenas formais e lineares, já que somente pequena parte da realidade cabe nas expectativas usuais da lógica e da matemática; entretanto, mesmo do que concluir pela incomunicabilidade entre quantidade e qualidade, conclui-se, e, de outro, pelo isomorfismo dela... sobretudo; até certo ponto, entre quantidade e qualidade haveria mais coisas em comum do que se pensa e sobretudo nenhuma dicotomia; ficou a certeza da incerteza dos dados e do conhecimento como tal, já que a realidade é intrinsecamente incerta, inclusive a material; a quantidade indica naturalmente a qualidade, embora muito palidamente...

Luckesi (entre outros) defende que a avaliação entendida como ato amoroso não exclui a dimensão técnica e objetiva. Pelo contrário, o autor valoriza os instrumentos criados para a coleta de dados e dá dicas para seu aperfeiçoamento. Mas isso sem perder de vista seu sentido mais profundo:
O mandamento "ama o teu próximo como a ti mesmo" implica um ato amoroso que, em primeiro lugar, inclui a si mesmo e, nessa medida, pode incluir os outros... Defino a avaliação da aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir avaliação de julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação, para, então (e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se necessário. (LUCKESI, 1994, 171-2.)

Todos nós avaliamos e somos avaliados o tempo todo. Quando nos levantamos pela manhã, estimamos se vai ou não chover, quanto tempo levaremos para nos aprontar; consultamos nosso estômago a respeito do café da manhã, aferimos a adequação da roupa que iremos usar etc. Mas o que acontece quando, ao invés de coisas temporais, avaliamos alguém? Quando a/o avaliamos, pesamos a estima que temos por ela ou ele.
G. Snyders (1916), professor de Ciências de Educação da Universidade de Paris, Sorbonne, já defendia em A Alegria na Escola, de que a avaliação, coerente com todo o clima e cultura da escola, deveria ser um momento de encorajamento e apreciação, pois ela é, antes de tudo, um investimento de altíssimo risco. O autor aproveita ainda para lembrar que, quando falamos de avaliação, precisamos explicitar e consultar o padrão do que consideramos bom, melhor e máximo que o aluno pode atingir. Mais do que isso, é preciso perguntar que aluno é esse que pretendemos formar, qual o “perfil de egresso”almejado. (Essas são perguntas fundamentais e norteadoras do Projeto Pedagógico). Qual é o grau máximo de aperfeiçoamento em cada disciplina? Qual o mínimo? Teremos que falar, portanto, em critérios, consultando uma tábua de valores, capaz de nos orientar.
A metáfora do ourives é muito ilustrativa para entendermos essa lógica. O ouro, já em seu estado puro, tem um enorme valor. Mas, se ele for trabalhado, passando por um lento, incisivo e candente processo de purificação, tornar-se-á ainda mais precioso. Somente depois de passar por esse processo abrasador estará pronto para ser avaliado como jóia.
Não que devêssemos fazer o aluno “suar a camisa”, pelo contrário, o que importa é a postura de cuidado, de dedicação do ourives para aprimorar e tirar o máximo do aluno, tendo por horizonte a excelência.
E principalmente a escola é um mundo rigoroso, pois um de seus papéis é avaliar. O riscos da avaliação forma denunciados centenas de vezes: risco de infantilizar, desesperar, imobilizar; o aluno sentido-se atacado se contrai, entra dentro de si. Aqui o esforço é essencial para que cada pessoa seja comparada a si mesma muito mais que confrontada com os outros. Mas a escola não renuncia à avaliação enquanto se interessa por fazer o aluno viver na convicção que tem progressos a realizar, que ele lá está para realizar progressos; além de fazê-lo sentir que suas produções estão à esta ou àquela distância dos sucessos de referência. Nada é equivalente, existem critérios de valores, uma hierarquia de valores... Não há ‘bom professor’ que torne tudo fácil – ou melhor o bom professor não é aquele que tornaria tudo fácil seja pelo seu encanto, seu carisma, seja pela virtude iluminadora de suas interpretações; provavelmente o bom professor é aquele que fornece os meios e a vontade de se medir em relação ao difícil. A escola é difícil para todos, certamente em níveis muito diferentes; mas quando não se reduz mais a cultura às boas maneiras, ao bem falar, nem mesmo ao sucesso nos exames, em resumo ao bom tom e àquela famosa ‘distinção’, parece que ela nunca é imediata, natural, impregnação direta do meio; nunca é como o ar que se respira... Para que a criança triunfe, é preciso confiança em si, coragem – encorajamento; mas também cada passo à frente aumenta a confiança em si. A criança tem necessidade de obter vitórias – e constatar que em alegria, elas supercompensam bem as provas. (Snyders, 1988, 204-5).

Outro autor que se dedicou à questão é Celso Vasconcellos. Ele arrola aproximadamente vinte e sete erros lógicos no tratamento da avaliação. Um deles é a idéia fixa de que mudar significa sempre melhorar: “Antes de mudar o sistema da avaliação a escola precisa pensar bem, pois se, de fato ele melhorar, vai causar desemprego para muita gente que sobrevive do estrago que a nota faz nos alunos: professores particulares, empresas de aula de reforço, clínicas de recuperação, psicólogos, psicopedagogos, etc.” (Vasconcellos. 1993, 18).
Após tocar na polêmica possibilidade de um sistema escolar sem notas, ele declara que denunciar só não basta. Diria que esta é a parte mais fácil. O que interessa mesmo é a postura diante do problema, a disposição de transformar a realidade que aí está. Ele apresenta seguinte desafio à reflexão: “Afinal, qual o nosso papel: cumprir o programa, ou comprometermo-nos com a aprendizagem do aluno?... o maior objetivo do professor não deve ser o de saber o quanto o aluno sabe, mas o de garantir a aprendizagem de todos.” (Idem, 48-9.)
Em Se eu finjo que ensino,você finge que aprende, Hamilton Werneck fala do famoso "pacto da ignorância", onde o professor urubu, não vê a hora de lançar-se sobre a sua carniça, o aluno. Em contraste, o verdadeiro mestre é o garimpeiro, que, no meio do lodo, e após lançar-se no meio da correnteza do rio, depois de muito abaixar-se e procurar é recompensado com a descoberta do esperado diamante.
Noutra obra de título sugestivo, Prova, Provão: Camisa de força, Werneck usa e abusa da arte da fábula para descrever a postura de alguns educadores (personificados em certos animais como O macaco, a serpente, o pavão, etc.) diante da tarefa melindrosa e desafiante da educação. Depois da sátira, ele sugere o resgate de alguns valores éticos, capazes de contrabalançar o individualismo e outros “ismos” que assolam o cenário educacional não apenas no Brasil. Usando a criação como metáfora para a importância da reflexão a começar do professor, ele conclui:

Se Deus pudesse errar, certamente corrigiria seus erros. ... em Gênesis, capítulo 1, versículos 1 e seguintes, está a descrição da obra da criação. Ali encontramos a auto-avaliação de Deus ao final de cada momento, de cada período de sua obra. Faça-se a luz e a luz foi feita e Deus viu que era boa... Da criação dos animais ao ser humano Deus viu que tudo era bom, que sua criação era boa. No versículo 31 do capítulo 1 do livro de Gênesis está escrito: E viu Deus todas as coisas que tinha feito e eram muito boas. De maneira sequenciada Deus se auto-avaliou, passo a passo, dia a dia, mostrando, numa interpretação ampla da linguagem pedagógica da Bíblia, que devemos avaliar nossos trabalhos com os alunos a cada passo. (Luckesi, 1994, 129-130).

Considerações Finais
Independente de acreditarmos em Deus ou não, o criador do mundo e do ser humano certamente não aprovaria muitas das práticas avaliativas dos humanos. Saberia muito bem como aproveitar os erros dos seres humanos e as situações mais variadas e até hilárias, ou irônicas, para transformá-las em chances para o aprendizado e aperfeiçoamento. Se observarmos o Deus das narrativas bíblicas, esse é um dos grandes paradoxos de Seu método de ensino.
A metáfora da criação nos mostra que a verdadeira avaliação é aquela que não pretende ter a palavra final ou a verdade absoluta em situações que excedem infinitamente as do ensino dos dogmas. A boa avaliação, que se aplica a toda a educação, portanto, é a que mantém em seu horizonte um bem maior. Por mais que, em última instância, esse bem não possa ser quantifica
E na EaD isso não é diferente. Pelo contrário, professores e alunos são quase “obrigados” a se adaptar ao incomensurável, ao inesperado e são, a todo o tempo, desafiados ao uso da imaginação que é o instrumento da criatividade. Isso por sua vez favorece a abertura para as diversas dimensões do processo avaliativo, que só pode ser entendido de uma maneira holística e integral. E o que é melhor, na EaD jamais se pode avaliar trancado em um gabinete, principalmente nos modelos colaborativos e cooperativos, o que por si só promove uma avaliação menos linear, quantitativa e mais rizomática.
É claro que quem usa a EaD somente para acrescentar as TIC´s aos seus modelos tradicionais de ensino passará ao largo das novas possibilidades trazidas pelas mesmas, vendo-se em um constante hiato entre a real aprendizagem e um faz-de-conta sofisticado.
Ainda tenho esperança de ver o dia em que a EaD convença os professores e lideres das instituições de ensino reconhecerem que o ensino tipo “cuspe e giz” está com os dias contados, por mais que tentem mantê-lo vivo artificialmente. Então, quem sabe, possamos falar em “revolução no aprendizado”.

Referências:
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BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999. 4v.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF, 1997.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei n.º 10.861, de 14 de abril de 2004. Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES. Disponível em: . Acesso em: 21 jun./2008.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei n.º 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei n.º 9.394/96. Brasília, DF, 7 fev./2006.
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GOMES, Á. C.; GHIRALDELI JR, P. Distância do ensino à distância. O Estado de São Paulo, 29 nov./2006. p. A1.
FARIA, Carlos Aurélio Pimenta de,“Política da Avaliação de Políticas Públicas”, RBCS, Vol. 20, n° 59, outubro 2005, disponível em , acesso em 2009.
FREIRE, Paulo, Pedagogia dos Sonhos Possíveis, São Paulo: Ed. UNESP, 2001.
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GADOTTI, Moacir. “Da palavra a ação”. In: INEP. Educação para todos: a avaliação da década. Brasília: MEC/INEP, 2000. 27-31.
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LÉVY, Pierre. Cibercultura. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1999.
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MORAN, José Manoel,“Novas tecnologias e o re-encantamento do mundo”, disponível em , acesso em 13.05.2009.
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PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
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WCEFA - CONFERÊNCIA MUNDIAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS. Declaração mundial sobre educação para todos e Plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Jomtien, Tailândia: março de 1990.
WERNECK, Hamilton. Prova, Provão: Camisa de força da Educação. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
____, Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. 11ª ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

(Nota: Infelizmente não pude subir os quadros e tabelas explicativas ainda, mas estou tentando).

Publicado na Revista Atualidades em Educação

Publicação do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação
ano 27 - nº 130 - maio/junho de 2009
ISSN 0130-071x

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Da Boa Notícia à Boa Nova

by Gabriele Greggersen

Depois de anos de desfrute mais do que de pesquisa das obras de C.S. Lewis, fiquei muito feliz com essa boa notícia. Mal foi criada a editora já começa com “bolas cheias” como essa. Trata-se da Ichtus Editorial que pretende lançar até o fim desse ano sete novos títulos do autor, seis dos quais são completamente inéditos.
Tudo indica que a Editora Martins Fontes, que tinha os direitos, "foi pra Portugal e perdeu o lugar". Quando o editor me consultou pouco antes de sair a sua primeira edição das Crônicas de Nárnia (1997), apontando para uma pilha dos livros de Lewis sobre a sua mesa, qual eu recomendaria para tradução e em que ordem, imediatamente eu sugeri Till we have Faces (1956), um dos meus prediletos.
Por quê? Bem, esse livro que é dedicada à sua amada esposa, Joy, e que com certeza teve influência dela, revela toda a sua maturidade, como homem de fé, como marido e como homem das grandes histórias de todos os tempos. Difícil explicar principalmente ao cristão que nunca provou o gosto das grandes histórias, dos mitos, dos épicos, dos contos de fada, qual é esse quê. E muitos deixam de prová-lo por supor que sejam “pagãos”ou até “diabólicos”, como se o diabo fosse capaz de escrever grandes histórias...
No caso de Lewis e de muitas pessoas que viviam hermeticamente fechadas por anos para o evangelho, essas histórias é que lhes deram a pista para o retorno à maior e mais verdadeira História de todos os tempos.
Mas também conheço, pelo contrário, cristãos hermeticamente fechados a tudo que não seja explicitamente cristão: a festa junina, todo tipo de música (só se for de Bach, que era cristão, não era?), em outros tempos, até o futebol... Ou seja, toda a cultura.
A idéia de re-escrever o mito de Cupido e Psiqué já estava na mente Lewis há mais de 30 anos, desde jovem estudante ainda não converso. De forma muito semelhante a O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupas que começou com a imagem de um fauno carregando um guarda-chuva quando ainda era adolescente, essa história conta toda a trajetória de seu amadurecimento psicológico, mais do que espiritual.
E a dramática história, relatada pela perspectiva da irmã feia de Psiqué, Orual, que vem a ser uma grande e bondosa rainha, traz enormes lições não apenas sobre a psique masculina, como era de se esperar de um autor homem, mas em especial sobre a psique feminina. Orual reconta a sua história, admitindo a sua parcela de culpa na perda de sua bela irmã Psiqué para Cupido. O fim é ainda mais surpreendente e emocionante. Tenho uma amiga que já perdeu a conta de quantas vezes leu o livro e todas as vezes lhe vêm as lágrimas.
Também The Pilgrim's Regress é exemplar no papel que a literatura e a cultura em geral podem ter na vida espiritual e na cura psicológica de uma pessoa. Trata-se de uma autobiografia espiritual, a primeira obra de ficção que Lewis publicou após a sua conversão. Como esse O Peregrino “às avessas” ele dava o chute inicial a todo um legado que o consagrou não como evangelista, mas como exponencial autor cristão. Eu o considero um missionário das letras, que com sua arte, apontou para quem tivesse “ouvidos para ouvir” das sombras para a Luz da Boa Nova.

sábado, 4 de julho de 2009

Novo curso on line!!!

Cartas Cibernéticas

Olá Professora,

Primeiramente, parabéns pelo conteúdo deste módulo, muito rico em informação e argumentativo.


Lendo o módulo de Filosofia e Políticas educacionais e, unindo com minha experiência como professor de Inglês, posso afirmar que uma boa aula é aquela que transcende seu objetivo. Baseando minhas idéias na unidade 29, que relata o pós-modernismo, gostaria de dissertar sobre o grande desafio que é lecionar. Vivemos em uma era em que informação é conhecimento e este mesmo conhecimento amanhã será passado. A tecnologia está revolucionando e transformando o modo de viver de todas as pessoas, livros estão sendo digitalizados, lousas estão se tornando eletrônicas, CDs são MP3s, a era digital chegou e até que ponto isto é proveitoso para o ensino? Será que os atuais métodos de ensino nas escolas atraem nossos alunos de uma maneira eficaz e eficiente?

Com o avanço da tecnologia e o aumento da digitalização mais pessoas têm acesso a internet, que é a maior fonte de informação atualmente; nossas antigas enciclopédias estão ultrapassadas e pesadas. A informação é vendida de forma rápida e barata, geralmente sensacionalista, causando espanto ou certa alegria passageira. Com este acúmulo de notícias superficiais que são esquecidas de um dia para o outro, nossa auto-imagem, estudada pela psicologia, vai se tornando indefinida. Vivemos do dia-a-dia, do contemporâneo, da "globalização", de coisas passageiras que são incapazes de criar um meio. Como citado no módulo, página 274, retirado do livro Grande Sertões Veredas, "o sentido da vida não está no começo ou no fim, mas no meio do caminho"; se nos deixarmos levar pela vida, como diz o grande cantor brasileiro Zéca Pagodinho, "Deixa a vida me levar", viveremos apenas do começo e do fim.

O papel do professor vai além do ensinar, a palavra ensinar é definida pelo dicionário eletrônico Informal como: "Do latim insignare, que significa instruir sobre, indicar assinalar, marcar, mostrar algo a alguém". Eu diria que o papel do professor é mostrar a realidade, a mesma realidade que Saramago quer mostrar em seu livro "Ensaio sobre a cegueira", quando diz um dito dos "Livros dos saberes", "Se podes enxergar, veja. Se podes ver, repare". Mais uma vez, o professor transcende seu objetivo definido pela instituição.

Essa realidade deve ser mostrada através do ensino crítico, as idéias do professor devem ser expostas em suas aulas, não de uma forma ideológica, mas de uma forma opcional, fazendo do aluno um ser ativo e capaz de tomar decisões. O que estou querendo dizer é que a ideologia criada pelos meios de comunicação, principalmente pela mídia, tem de ser mostrada; e é dever da escola fazer com que isso aconteça.

A ideologia, segundo Karl Marx, pode ser considerada um instrumento de dominação que age através do convencimento (e não da força), de forma prescritiva, alienando a consciência humana e mascarando a realidade. Os pensadores adeptos da Teoria Crítica Frankfurtiana consideram a ideologia como uma ideia, discurso ou ação que mascara um objeto, mostrando apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades. ( Retirado do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal )

Se não estimularmos a imaginação dos nossos alunos, o prazer de ler um livro, a beleza da arte, a origem dos problemas enfrentados hoje e os grandes heróis e pensadores que nos inspiraram a fazer coisas grandes, as classes elitistas vão aumentar cada vez mais. A escola, definida como: “Conjunto formado pelo professor e pelos discípulos.” pelo dicionário on-line “Priberam”, defini este estabelecimento de ensino ainda de uma outra forma: “Método e estilo de um autor, de um artista”. Podemos definir então que o professor é um artista, ele cria arte, o aprendizado é uma arte.

Se a maioria dos alunos, de adolescentes a jovens, não sabem argumentar sobre a vida, não sabem o que é Deus ou o que significa a vida, por que não discutirmos temas transversais em uma aula? Por que não falarmos de religião, ciência e filosofia de uma forma mais crítica? Como diz C.S. Lewis "A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos.? Então, vamos fazer de nossa aula um lugar mágico, um palco onde os alunos são personagens principais capazes de transformar a realidade do seu público com suas idéias e ideais.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Brasiliana

Agora teremos a nossa (biblioteca digital)!!!

Vale a pena conferir!

http://www.brasiliana.usp.br/

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Urgente, urgentíssimo

CUBA
Diálogo entre teologia e literatura é urgente, diz teólogo
José Aurelio Paz


Matanzas, quinta-feira, 25 de junho de 2009 (ALC) - A produção literária latino-americana tem muitos pontos de tangência com a religião, afirmou o teólogo porto-riquenho Luiz Rivera Pagán. Ele confessou perplexidade diante da falta de atenção da comunidade teológica para esse aspecto.

Pagán apresentou análise do fenômeno identificador da região como húmus da fé no encontro celebrante dos 80 anos do Congresso Evangelístico de Havana, de 1929, reunido nesses dias no Seminário Evangélico de Teologia de Matanzas.

O evento é um aporte significativo para o encontro de Edimburgo 2010, conclave mundial que festejará o centenário do encontro ecumênico reunido na Escócia em 1910.

“O diálogo entre a teologia e a literatura na América Latina é urgente pelos interesses óbvios que ambas têm na memória mítica e as utopias dos povos, à margem da modernidade ocidental”, disse Pagán.

Ele estranha a falta de interesse da comunidade teológica latino-americana pela literatura moderna do continente, que traz afirmações desafiadoras e teologicamente transgressoras. Ele defendeu o estudo do vínculo entre teologia, profetismo e poesia.

“São múltiplas e férteis na América Latina as interseções entre a poesia, a espiritualidade, o pensamento da fé e a solidariedade humana”, disse. Não se trata de uma intuição nova nem original, pois já o cubano José Martí o fizera no século XIX, frisou.


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segunda-feira, 22 de junho de 2009

S.I.G.L.A.

S.I.G.L.A.

Era uma vez uma S.I.G.L.A. Ela se achava muito importante, pois tinha sido concebida por gente extremamente distinta e inteligente, que a considerava a melhor invenção do planeta, já que criava uma reserva natural de mercado. Somente, eles, os I.N.I.CI.A.DOS (Instituto Nacional da Irmandade dos Cidadãos Anônimos Dominadores), conseguiam se comunicar, sem que os vilões da causa que defendiam, como pessoas que quase só sabiam falar palavras comuns, os assiglados, pudessem estragar tudo. Aliás, combater o assiglismo era uma das maiores missões dos I.N.I.CI.A.DOS.
S.I.G.L.A era um sujeito sem identidade, que vivia na boca do povo de M.E.C. (Mundo Educacional Caudaloso), mas ninguém sabia bem, o que significava, só os I.N.I.CI.A.DOS nos seus clubes e corporaçõe respectivos. Em suma, S.I.G.L.A. era solitária, por mais popular que pudesse se tornar por algum tempo. Ela já sabia que, exceto raras exceções como IPTU, U.S.P., C.P.M.F., R.E.N.A.V.A.M, M.S.T., C.P.F., e INSS, a maioria das siglas tinha vida mais ou menos curta (por ex. M.D.B., A.I.5, K.G.B.), e graças a Deus, já foram extintas.
O princípio era simples. Tudo o que pudesse ter algum significado importante para a missão da corporação ou grupo de interesse respectivo, era abreviado, com o intuito de que os não I.N.I.CI.A.D.O.S. na confraria não pudessem entender. E tudo isso, dissimulando uma pretensa democratização, inclusão e participação maior de toda a sociedade.
Você já não teve aquele grupo de amigos na infância com que adotou a língua do “p” para velar as mensagens secretas do grupo perante os outros? Era a solução para ações ousadas de revanche, imposição de poder e ocultamento de fofocas a respeito da vida alheia. Quem sabe você até já tenha inventado outra língua, à semelhança de gênios inconformados com a sociedade como J.R.R. Tolkien e outros autores famosos.
Quando se trata do universo infanto-juvenil é bom e até saudável usar esse tipo de recurso lúdico. Mas quando se trata do universo adulto, a coisa fica mais séria. Principalmente quando se está falando de campos importantes como o da saúde, da assistência social e da educação (por ex. S.U.S., I.N.P.S., I.N.E.P.).
Nenhuma dessas entidades deve ser tratada como sociedade secreta, como nos fazem suspeitar as tantas siglas, por mais que tais instituições mereçam nosso respeito. Elas são de domínio público, de propriedade de todo cidadão, que tem direito à contrapartida da sua cidadania, e dos impostos absurdos que paga. Somente se tiver acesso às informações ocultadas por trás da parafernália das siglas e instituições poderão reivindicar qualidade nos serviços e ensino e fazer a sua parte em relação à inclusão social, preservação do meio ambiente, responsabilidade social, etc.
Voltando à nossa história, nossa amiga S.I.G.L.A se sentiu em casa logo que nasceu em M.E.C., em que teria tantos colegas e amigos congêneres. Na verdade, tinha tudo a ver com o seu verdadeiro nome Sistema de Inspeção de Graduação Latino- Americano.
O mundo de S.I.G.L.A. era cinzento, mas parecia cor-de-rosa para ela, que nunca tinha visto outra cor e adotara o nome que todos adotavam para ela; barulhento e cheio de arquivos empoeirados. A alimentação do povo era muito simples e ecologicamente correta: eles se alimentavam de papel reciclável, basicamente leis, e computadores, igualmente recicláveis. E pode crer que reciclavam mesmo, pois das árvores e alumínio e ferro naturais já não restava nada naquele planeta.
Os habitantes “educados”, ou “siglados” que perfazia aproximadamente 20% da população, falavam praticamente só em siglas, exceto em raras exceções, de modo que as mensagens eram bem curtas, mas para isso, demandavam esforços dobrados de memória e conhecimento de causa, para se decifrar o sentido do que estava sendo dito.
Todos os dias aconteciam situações às vezes desastrosas, às vezes só embaraçosas, às vezes bastante hilárias ou até trágicas, envolvendo a má interpretação das palavras.
Somente para contar algumas: Certo dia um advogado, que pretendia defender o seu cliente, acusado de extorsão, ao ser perguntado sobre quais os maiores méritos do mesmo, disse:
- M.E.N.T.I.R.A.
Meritíssimo Ele Não Tem Inveja, Raiva Ou Ambições.
Ou quando a senhora representante da entidade das senhoras caridosas da cidade, ao ganhar o prêmio C.D.F. (Confiabilidade, decência e franqueza) e ser perguntada, o que mais deseja fazer na vida, agora que é famosa, respondeu:
- T.R.A.N.S.A.R.
Querendo dizer:
- Transformar a Sociedade pelo Amor e Respeito.
O exemplo tragicômico de que nos lembramos é do dia em que o noivo respondeu à noiva em pleno altar, que perguntava sussurrando, se ele já tivesse decidido, onde eles iam passar a lua-de-mel:
- I.N.F.E.R.N.O.
Querendo dizer: Iremos Nadar, Farrear E Rolar Na Oceania.
Não é de se estranhar que a noiva o mandou para lá sozinho, caindo no maior berreiro. Mas quem o mandou de verdade com um tiro na cabeça foi o sogro, que ouviu tudo.
Apesar dessas pequenas mazelas, S.I.G.L.A. sentia-se bastante bem no convívio com as pessoas que acreditavam nas abreviaturas, por serem assim tão práticas, modernas e “democráticas”.
E acreditava piamente que o que unia aquelas letrinhas era o A.M.O.R. O que ela não percebeu, foi que, ao contrário de caridade, respeito ao próximo e autosacrificio, para a maioria dos cidadãos de M.E.C. a palavra não passava de outra sigla: Associação de Meritíssimos Ostentadores de Regalias.
Quando cresceu, já na adolescência, S.I.G.L.A. percebeu que o seu mundo não era cor-de-rosa, mas cinza e que de amor, não tinha quase nada. Você nem imagina a decepção dela, depois de ter estudado tanta pedagogia, ao descobrir o significado de P.A.I.D.E.I.A. para os mequianos. Então, na primeira oportunidade, pegou um foguete para.a verdadeira Terra de Paidéia, um mundo, que os I.N.I.CI.A.DOS já haviam recalcado da memória há séculos e com o qual mal podiam sonhar.
Quem sabe, atitudes radicais como o de S.I.G.L.A. algum dia desperte os mequianos do seu sono pedagógico.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Nova Biblioteca Digital Mundial (UNESCO)

Veja a reportagem da globo sobre essa maravilha para os fanáticos pela leitura:

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1010029-7823-UNESCO+LANCA+SITE+DA+BIBLIOTECA+MUNDIAL+DIGITAL,00.html

Pequena Pena

Gabriele Greggersen

Uma pluma chamada Pena voava livre, leve e solta, navegando pelos ares, como se gravidade não houvesse. Seu colorido exuberante devia todo à ave mãe, da qual tragicamente se desprendera num dia cheio de dor e saudade.

Nesse vai e vem, entre dias de sol e de chuva fraca a torrencial, nada lhe arrancava do peito a imagem da ave mãe. A lembrança dos dias bons que passava grudada no corpo quentinho dela fazia-a ladear abismos, cruzar desertos escaldantes e encarar tormentas. A lembrança da ave-mãe era a razão do viver de Pena. Ela era a luz que dava sentido e rumo ao seu efêmero percurso.

Certo dia, quando fazia o seu vôo matinal, Pena deparou com outra pluma, de cores meio acinzentadas. Antes mesmo de Pena poder aproximar-se dela, ambas foram atingidas por uma tempestade e bombardeadas por pesadas gotas até caírem numa enorme e fedorenta sarjeta.

A outra pluma bufava e esperneava:

- Como é duro ser pluma! – queixava-se. - Preferia ser pedra. Pelo menos não penava tanto. Odeio tudo isso!

Pena muito se espantou com aquela atitude e indagou a colega:

- Mas isso não te traz à lembrança a sua ave mãe que te gerou e cuidou de ti por tanto tempo e quanta falta lhe faz? A saudade às vezes é um santo remédio.

Mas a pluma, nada entendendo, e de cara fechada e magoada, mergulhou de vez no lamaçal para nunca mais...

- Que pena! - pensou Pena – A ave mãe dela deve ter sido um urubu ou ave de rapina, coitada.

Depois que o sol despontou secando-a, Pena sacudiu a poeira e foi novamente levantada pelo vento. Findas mais algumas horas, avistou outra pluma aproximando-se, toda alegre, a rodopiar e dar piruetas acrobáticas pelos ares.

Na verdade o horizonte para onde ela ia estava repleto de nuvens negras amedrontadoras; raios e trovões de dar medo.

Depois de se apresentar, Pena perguntou:

- Estás alegre assim, por quê?

- Por que não estaria? - retrucou ela sem parar de se remexer.

- Ora, não estás vendo aquelas nuvens? É melhor nos abrigarmos em algum lugar seguro. Se não, sua alegria poderá acabar em muita dor.

- Dor? O que é isso? Ah, você se refere àquelas histórias da carochinha que contam para os pequeninos? Isso não passa de balela. Não existe dor, não vês? Vamos, pense positivo e viva a vida!

Antes que Pena pudesse abrir a boca, lá se foi ela, rodopiando pelos ares até desaparecer no horizonte.

Que pena! - Ela pensou mais uma vez e seguiu seu rumo à procura de abrigo.

Passada a tempestade, continuou a navegar e navegar dia após dia. É claro que Pena teve vários outros encontros e situações alegres e felizes; ou duras e amedrontadoras. Mas sempre as aproveitava para não perder a oportunidade de lembrar-se da sua adorada Ave-mãe e falar sobre ela aos outros.

Até que num belo dia, pousou numa lagoa bem mansa. Depois de lembrar pela última vez da ave mãe e agradecê-la, finalmente afundou.

Que pena!

Não de Pena, pois esta finalmente estava em paz, na Terra de Quem criou a Ave-mãe e assim, a ele. A pena é pela história, que chegou ao fim.

Quem olha assim para Pena e seu trajeto, só pode concluir: Valeu apena, ah, valeu!

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Nota: Essa história é dedicada ao dedicado pessoal da Universidade Aberta do Brasil (UAB) do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC), com todo o carinho e estima.


quarta-feira, 27 de maio de 2009

Educação Criativa e Prazerosa

Oi pessoal,

Esse blog é para todos aqueles educadores e educadoras: pais, professores, líderes de instituições, estudantes, apredizes, policiais, guardas de trânsido, guias turísticos, jornalistas, ou seja, todos que, de alguma forma, ensinam e aprendem.

E a pergunta central é "A educação tem que ser sofrida?" Acreditamos profundamente que só "aprende pela dor", aquele que não sabe o que é educação e por isso mesmo, não pode aprender "por amor".

Nele serão postados links, textos, imagens, sugestões de atividades didáticas imaginativas, ou seja, que usem a imaginação e o lúdico, muito fomentadas cada vez mais pelas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) como principais aliados numa educação prazerosa, que busca o saber com sabor, visando à sabedoria. Isso tudo, para a educação presencial e a distância.

Sejam bem-vindos, sintam-se à vontade de participar de múltiplas formas e que a Força esteja com todos nós nessa jornada!