domingo, 24 de outubro de 2010

O Casamento Cinqüentenário: Registros despretensiosos de uma contadora de histórias

por Gabriele Greggersen

Era uma vez, um casal muito simpático de nomes Dorwe e Uwra (ou será que foi vice-versa?). Antes de eu começar a relatar alguns fragmentos desse matrimônio é preciso avisar a que vos narra é ainda novata no ramo, sendo considerada um tanto confusa por alguns, e não foi testemunha da grande maioria do que está relatado aqui. Então, qualquer semelhança a fatos ou pessoas reais, é mera coincidência?
Eles sempre foram muito queridos, por onde quer que passassem, deixando rastros encharcados de saudades pelo Brasil e pelo mundo. Mas de onde será que vem tanta simpatia e carisma? Quem sabe descubramos, relatando alguns acontecimentos bem marcantes e emocionantes da vida deles.
Bem, vamos começar como se deve, pelo começo: Quando Uwra e Dorwe nasceram, pasmem, eles eram bebês, e ainda por cima, recém nascidos! E como todo bebê recém-nascido, provavelmente eles choraram muito, mas com certeza não, no mesmo lugar e nem, pelos mesmos motivos.
Uwra nasceu na belíssima cidade portuária do norte da Alemanha de nome de sanduíche, como era mesmo no nome? Acho que era algo parecido com X-burger e Dorwe, na encantadora cidade de nome de um doce muito gostoso, como era mesmo? Acho que era algo como Doce Sonho.
Quanto ao choro, bem, Uwra deve ter chorado, por ter sido puxado por mãos masculinas do seu “berço” quentinho e confortável, onde a alimentação era garantida (ele nunca teve de sentir fome naquela época...). Já Dorwe, é mais provável que tenha chorado, porque se assustou com o mundo frio e rude em que estava adentrando e isso, sem cabelos para pentear, sem roupas adequadas para vestir, sem maquiagem e nem mesmo um espelho para dar aquela checada crítica, antes de sua primeira entrada triunfal no palco da vida (ainda bem...). Ou será que foi o inverso?
A próxima cena mostra como Dorwe foi morar com a mãe na cidade natal de Uwra, X-burger, pois elas tinham sido expulsas do ceio da família em plena guerra por causa do nascimento de Dorwe, que nunca conheceu o seu verdadeiro pai.
Quando a guerra chegou ao auge, ela foi separada da mãe por três longos anos, por ter sido enviada para um local mais seguro no interior da Alemanha, para morar com pessoas estranhas, que não a tratavam bem. Após a guerra, pode voltar, já mais velha, para os cuidados de sua mãe, que as sustentava costurando para os soldados ingleses que ainda ocupavam o país. Ao longo de toda vida de Dorwe, sua mãe passou por vários casamentos, todos eles muito difíceis e, como permanecia filha única, via-se muitas vezes só.
Enquanto isso, Uwra se viu numa grande família: ele era o filho mais velho, mas tinha duas irmãs mais velhas do que ele e um irmão mais novo, que também se tornou pastor, mas veio a falecer recentemente. Uma das irmãs havia tido uma meningite, pela qual perdeu a audição e com isso, a fala e também grande parte da visão. Ela teve que ser cuidada pelos pais por toda a sua vida, apesar de ter gozado de certa independência. Quando a guerra estourou, seu pai teve que ir ao front de batalha, onde, por ser cristão, preferiu trabalhar como responsável pela alimentação das tropas de sua unidade militar. Mas alguém tinha que cuidar da casa e da pequena loja de laticínios da família. É claro que sobrou para Uwra, que, desde moleque, gostava de velocidade, fazendo entregas com sua bicicleta de transporte “supersônica”, com a qual deve ter levado várias multas por excesso de velocidade e perigo à saúde pública.
Ou será que estou confundindo as coisas de novo? Não vem ao caso, já que isso aqui é para ser uma história despretensiosa. Só sei que num belo dia, quando o pai de Uwra retornou depois de alguns anos como prisioneiro de guerra na Rússia e os problemas de saúde deles decorrentes, a mãe de Dorwe, assídua freqüentadora da lojinha de laticínios, viu Uwra com suas fortes mãos e braços de carregar volumosos recipientes de leite e outros produtos pesados, encantou-se por ele e resolveu trazer sua filha junto com ela na próxima compra.
- Quem sabe não pinte um “clima” entre eles? – pensava ela desejosa.
Pois é, caro leitor, assim é a vida: o clima pintou desde a primeira troca de olhares, as bochechas coradas e alguns encontros para bailes de dança (Dorwe gostava muito de dançar, mas Uwra sabia só era enganar e pisar nos pé da pobre moça). Mas como ele era cristão e ela não, o namorico se desfez, porque Uwra achava pecado namorar uma garota pagã, por mais bela que fosse (e como era bela!!!), e ficaram longe um do outro por algum tempo. Ou será que foi o contrário, meu pai?
Até que um belo dia, Dorwe ouviu uma chamada pelo rádio convidando para um evento de evangelismo numa tenda perto dali e resolveu ir. E não ficou por aí: resolveu também aceitar esse Cristo, de quem Uwra lhe havia falado an passan, no seu coração e, como se não bastasse, também resolveu se tornar missionária: tudo ao mesmo tempo, como lhe era típico... Ou será que Uwra é que era assim? Sei lá!
O fato é que o reencontro aconteceu; muita conversa rolou; mas Uwra, nada de se declarar ou pegar na mão de Dorwe no escurinho das caminhadas daquela mais bela noite de todas as noites. Isso, até chegarem à soleira toda iluminada da porta do prédio de Dorwe. Foi então que Uwra pegou Dorwe nos braços e lhe meteu um beijo bem no meio da boca (acho que naquela época era mais um “selinho”, não havia ainda esse negócio de beijo de língua, mas deixo esses detalhes por conta da imaginação de cada um).
Para encurtar a história: começaram a namorar, a se profissionalizar, Uwra no comércio e depois no seminário e Dorwe no corte e costura, na enfermagem e depois, também no seminário. Pouco tempo depois decidiram se casar, depois de um ano separados por uma viagem de Dorwe para a Inglaterra, que deixou a saudade apertar.
E ambos, da sua forma peculiar e sobrenatural, começaram a sentir no coração um ardor e um desejo verde-amarelo pela terra do futebol, do carnaval, dos pelicanos, da Amazônia, das lindas praias e paisagens e das mulheres. Mas não foi nada disso que atraiu nenhum do dois para tomarem a decisão de partir para lá, logo após o casamento. Era algo maior: eles queriam contar aos brasileiros sobre Jesus, da mesma forma que eles ouviram essa história e se entregaram completamente a ele. Mesmo sem ter nunca ido ao Brasil ou conhecido nenhum brasileiro, eles sentiram uma paixão muito grande por aquele país e um desejo profundo de compartilhar com eles esse Cristo que já morava no coração deles.
Em resumo, algo irresistível os estava empurrando para aquelas terras longínquas, das quais quase nunca se ouvia notícia na Europa, e partiram rumo ao Brasil, na condição de missionários do movimento das Igrejas Evangélicas Livres. E no caminho, que foi pelo mar, já que era mais barato do que de avião, (essa provavelmente foi a sua primeira aventura, pois era um cargueiro comum e nenhum navio de luxo) Dorwe não ficou enjoada apenas pelo balançar das ondas, mas por o primogênito que também já estava a caminho.
Foi aí que a vida cinqüentenária do “casal vinte e uns” começou de fato. Tiveram muitas alegrias, choques, choros (de rir e de chorar), decepções, conversões, desespero, filhas birrentas, amizades, mudanças (de domicílio, comunidade e modos de pensar), igrejas, trabalho evangelístico, de aconselhamento, viagens nacionais e internacionais, ações culturais e sociais, que não caberiam aqui.
Vai ver que é por isso que até hoje, Ralia, o primogênito, também finalmente casado com Lilf, gosta tanto do mar. O amor era tanto que ele não só foi morar numa ilha que o encantou, como trouxe seus pais, já aposentados, para morar ali com ele. E lá construiu uma casa, casou-se (quem tem casa, quer casar – ou será o contrário?). Mas essa história vocês já conhecem, e tudo o que aconteceu nesse meio tempo: o casamento de Edugina e Regiardo (ou seria o contrário?); o nascimento de seus adoráveis filhos, Andreus e Matré, bem, vocês não vão querer que eu lhes escreva e leia um livro de vários volumes, não é mesmo?
Então, vamos à festa!!! Vivam os pombinhos e seus selinhos!!!

sábado, 14 de agosto de 2010

A SILENCIOSA INVESTIDA DA REDE GLOBO

Dias atrás eu conversava com minha esposa sobre a programação da Rede Globo, do padrão de qualidade, da audiência, do investimento gigantesco em publicidade e das inúmeras repetidoras espalhadas no Brasil e no mundo.

Acontece que a Globo, com todo esse poder de penetração na sociedade e dentro de nossas casas, vem introduzindo, silenciosamente, uma cultura de libertinagem, traição, adultério e rompimento com a célula familiar de forma sutil.

Com o advento do BBB10 a Globo conseguiu o que ela vinha tentando há muito tempo, o beijo gay ao vivo. Em duas cenas do BBB 10 aconteceram dois beijos Gay e quando um deles foi "líder" a produção do programa teve o cuidado de colocar sobre uma estante a foto do beijo, com isso a Globo faz com que seus fiéis telespectadores vejam o beijo gay como algo comum e engraçado, ou seja, aceitável.
Agora, nas novelas globais o beijo gay vai acontecer, induzindo esse comportamento aos jovens e adolescentes, induzindo legisladores a criarem leis que abonem tal comportamento.

No mesmo BBB 10 uma das participantes declarou-se lésbica e com essa declaração todas as demais mulheres do programa se aproximaram dela sendo protagonizado o selinho lésbico no programa e todos os demais a apoiaram sob o manto sagrado do não preconceito.

Na novela Viver a Vida o tema principal mostrado de forma engraçada e aceitável é a da traição e do adultério.
A Globo leva ao telespectador ao absurdo de torcer para que um irmão traia o outro ficando com sua namorada.
A traição nessa novela é a mola mestra da máquina, todos os personagens se traem, e isso é mostrado de forma comum, simples, corriqueiro.

Mas talvez, a investida mais evidente e absurda esta na novela das 6h, Cama de Gato.
A Globo superou todos os limites nessa novela ao colocar como tema uma música do grupo Titãs.
Na música, nenhuma linha de sua letra se consegue tirar algo de poético, de aconselhável pra vida ou de apoio.
A letra da música faz menção discarada do Inimigo de nossas almas que deseja entrar em nossa casa (coração) e destruir tudo, tirarem tudo do lugar (destruir a célula familiar e nossa fé).

A música chega ao absurdo de dizer que devemos voltar à mesma prisão, a mesma vida de morte que vivíamos.

Amados amigos, fica o alerta, às vezes nem nos damos conta do real propósito de uma novela, de um programa, de uma música, e como Jesus esta às portas, as coisas do mal estão cada vez mais evidentes e claras. Até os incrédulos estão percebendo que algo esta errado.

Aproveito para trazer ao conhecimento a letra dessa música, cuidadosamente escolhida pela Globo para servir de tema da dita novela; música de abertura da novela.







Vamos deixar que entrem Que invadam o seu lar
Pedir que quebrem Que acabem com seu bem-estar
Vamos pedir que quebrem O que eu construi pra mim
Que joguem lixo Que destruam o meu jardim



Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro
Eu quero a mesma humilhação - a falta de futuro



Vamos deixar que entrem Que invadam o meu quintal
Que sujem a casa E rasguem as roupas no varal
Vamos pedir que quebrem Sua sala de jantar
Que quebrem os móveis E queimem tudo o que restar



Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro
Eu quero a mesma humilhação - a falta de futuro

Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro O mesmo desespero



Vamos deixar que entrem Como uma interrogação
Até os inocentes Aqui já não tem perdão
Vamos pedir que quebrem Destruir qualquer certeza
Até o que é mesmo belo Aqui já não tem beleza

Vamos deixar que entrem E fiquem com o que você tem
Até o que é de todos Já não é de ninguém
Pedir que quebrem Mendigar pelas esquinas
Até o que é novo Já esta em ruinas


Vamos deixar que entrem Nada é como você pensa
Pedir que sentem Aos que entraram sem licença
Pedir que quebrem Que derrubem o meu muro
Atrás de tantas cercas Quem é que pode estar seguro?



Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro
Eu quero a mesma humilhação - a falta de futuro

Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro O mesmo desespero





Imaginem nossas crianças cantando isso? Trazendo isso pra dentro do coração e da alma dela?

Tente imaginar de onde o compositor dessa pérola tirou inspiração para compôr tamanha afronta?



Por Márcio Ribeiro

A palavra de Deus é clara quando diz; quem esta de pé, veja que não caia. e ainda; examinai todas as coisas, retende oque é bom.

Ai pergunto, parafraseando a própria Bíblia; pode porventura vir alguma coisa boa da Rede Globo?

Pense nisso, anuncie isso, faça conhecer, livre alguns dessa humilhação, dessa falta de futuro, dessa cela de prisão.



Jesus esta à porta, e você o que tens preparado para quem será? "

Sapatolândia

por Gabriele Greggersen

Episódio I

Era uma vez um mundo de sapatos. Todos os indivíduos andavam aos pares. E quem não tivesse par, por motivo de extravio, morte ou qualquer outra razão, era extraditado para a ilha solitária, cuja história contaremos em outra ocasião. Ele era todo dividido em diferentes setores. Havia o setor dos calçados de casa: pantufas, chinelos, sandálias tipo Rider; o dos sapatos sociais, para homens e mulheres era muito rico e variado. Esses não gostavam de se misturar com aqueles. E havia também o setor dos calçados esportivos: tênis, chuteiras, até pés de pato para mergulhadores, patins de todos os tipos e esquis para a neve se contava entre eles.

Certo dia, um par de sapatos bem comum, que ficava fora de qualquer outro grupo, por serem demasiado simples, andava pela rua, exclamando:

- Ó vida, ó azar... Que vida dura é essa a nossa! Acho que prefiro morrer, do que viver essa vida medíocre. Ninguém nos convida para nenhuma festa. Vivemos sempre esse lenga-lenga de ir e vir, tirar e por e nada de especial acontece.

O outro par confirmou:

- É isso mesmo! Concordo plenamente! Oh vida, oh azar, mesmo.
Então, eles quase trombaram com um par de chuteiras que disse:

- Ei, o que é isso que estão dizendo? Nós tb já quisemos pendurar as chuteiras antes, mas agora, percebemos que não adianta a gente ficar reclamando da vida e não fazer nada. É preciso “tocar a bola pra frente”, se quisermos fazer o gol. Pois, “quem não faz, leva”! Não pisem na bola, assim!

- É mesmo, pensando bem, acho que estamos muito de bola murcha. Precisamos sacudir a poeira e driblar essa deprê. Muito obrigada, donas chuteiras, pelo conselho!!!
Eles se despediram e continuaram sua caminhada, quando se depararam com outro par de sapatos. Dessa vez eram duas botas muito bonitas, de vaqueiro. Mas elas estavam muito murchinhas e deprimidas.

- Estou vendo uma nuvem negra na minha frente – disse uma.

- E eu acho que não presto para nada – disse outra.

- Vocês não deveriam pensar assim, lindas botas, pois vocês são muito bonitas e úteis também.

- Acontece que a gente não se sente nem útil, nem bonita – disseram ambas juntas, como se fosse um coro.

- Nós também já nos sentimos assim – disseram os sapatos comuns juntos também. – Acontece que encontramos uma chuteiras muito “pra frentex” no meio do caminho, que nos ajudaram a enxergar que a vida não é assim tão dura e que não podemos deixar a bola murchar.

- O caso de vocês – continuaram – é ainda mais sério, pois vocês correm o risco de literalmente “bater as botas”, se continuarem nessa lenga, lenga, que não leva a lugar nenhum.

- É mesmo – disse uma.

- Vocês têm toda a razão – disseram as outras – Deprê não ta com nada.

- Ta com nada, ta com nada – gritaram as quatro, como se fosse um grito de guerra.

Essa história ficou conhecida entre todos os sapatos comuns, chuteiras e botas e resolveram fazer uma grande festa.

Só que os outros sapatos, principalmente os sociais, ficaram inciumados. Então resolveram armar um ataque contra o grupo enquanto ainda estivesse fazendo a festa.

Acontece que eles eram muito populares e tinham vários amigos secretos entre os sapatos sociais. Então, eles chamaram os sapatos abandonados da ilha solitária para armarem uma barricada, todos empilhados, em torno deles. Quando os sapatos sociais atacaram, eles, todas as suas balas ricocheteavam contra os sapatos solitários, que eram mais duros do que chumbo, e vinham na direção deles. Então, eles resolveram se render, mas com uma condição: de que pudessem fazer parte da festa.

Então, todos resolveram fazer as pazes e fazer a festa juntos e tudo não acabou em pizza, mas num enorme churrasco e não era de carne tipo sola de sapato...

O reverso do avesso

Em algum lugar do futuro, que não se sabe especificar, havia um planeta habitado por um povo muito parecido com os seres humanos, ao menos, no aspecto físico. Eles tinham braços, pernas, mãos e rostos muito semelhantes aos dos seres humanos normais. O mundo deles, chamado Odnum, era bem parecido com o nosso também. Moravam em casas e prédios, viviam e se multiplicavam em famílias nucleares.

Sua raça dominava os animais e plantas daquele planeta, que devia ter sido criado em algum momento da história por algum Deus parecido com o nosso ou por Ele mesmo. A diferença só ficava evidenciada, quando eles começavam a se movimentar. Ao invés de andar para frente, eles andavam para trás. E o pior é que eles o faziam com a maior naturalidade. Eles não eram como o curumim, que tem os pés virados para trás; nem eram como as corujas, que são capazes de girar a cabeça quase que trezentos e sessenta graus. Eles simplesmente não sabiam andar de outra forma que não para trás. Não vou dizer que isso não lhes causava nenhum constrangimento ou problemas. Mas como não tinham outra referência, encaravam tais problemas como nós encaramos as gripes ou problemas ergométricos causados pelo stress e má postura.

Então, imagine qual era a classe de profissionais mais rica daquela sociedade?

Acertou! A dos fisioterapeutas e ortopedistas, já que os habitantes daquele mundo viviam com torcicolo e com ossos quebrados ou trincados. Assim, eles viviam caindo em buracos, tropeçando nas coisas que vinham pela frente, ou melhor, por trás. Era um perigo sair nas ruas, sem ter plena certeza do que vinha pela frente, ou melhor, por trás.

Se, como pedestres já era um desastre, imaginem os odnumitas no trânsito. O espelho tinha que ser invertido, voltado para trás, para ter alguma utilidade, se é que tinha. Era engraçado observar o trânsito que não era invertido apenas nas mãos, como na Grã-Bretanha e no Japão, mas também na direção. Até os motoqueiros andavam para trás, expondo-se ao maior perigo de serem pegos por um carro ou caminhão.

Era um verdadeiro caos, uma vez que todos, até os pilotos profissionais andavam preferencialmente na marcha ré. Também viviam se acidentando das mais incríveis e trágicas maneiras,

Não sei muito bem como fui parar lá, mas coisas assim acontecem de vez em quando comigo, de modos tão surpreendentes, que jamais teria sido capaz de imaginar. E nas horas menos esperadas. Acho que eu estava fazendo exercícios físicos, observando aqueles corpos “sarados” ao meu redor. Fiquei pensando, pra quê tudo aquilo, se uma infelicidade profunda estava estampada na cara deles? Acho que foi esse pensamento que me transportou para aquele estranho mundo. Assim que aquela idéia me passou pela mente, fui como que tragada pelos orifícios do ar condicionado da sala de ginástica e fui parar em odnum.

Chegando lá, fiquei muito surpresa, já perto do fim do dia, quando constatei que eles não invertiam apenas a forma de andar, mas também a forma de dormir. Ao invés de se deitarem na horizontal, tinham camas pregadas na parede e agrilhões impediam que eles deslizassem ou caíssem no chão. Em suma, dormiam em pé como os cavalos e alguns bois.

Também a forma de organizar o cotidiano era invertida. Achavam que rendiam melhor depois dos sóis (havía mais de um) terem se posto. Ou seja, dormiam durante o dia, com complexos aparelhos para escurecer os seus quartos, e trabalhavam à noite. Se eles não percebiam o gasto redobrado de energia que isso causava? Não sei, não tive chance de os perguntar a respeito. Mas tudo indica que não se importavam.

Quanto mais eu vivia ali, mais convencida ficava de que as coisas andavam às avessas por lá. Por exemplo: Os pais eram instruídos a obedecer os filhos. Os alunos ensinavam os professores. Os bandidos eram exaltados e os mocinhos, jogados na lama.

Mas a cena mais engraçada que presenciei foi a de um júri popular. Para abrir a sessão, o juiz perguntou:

- O que esse teu aprontou dessa vez?

- Meritíssimo, esse indivíduo aqui atrás do Senhor é acusado de ter praticado boas obras! Imagine só que ousadia!

- Ah, mas isso é café pequeno. Nada que dois anos de reclusão não resolva. Quem sabe seus coleguinhas ex-bonzinhos de cadeia não o ajudem a se reabilitar para o mau?

- Mas tem mais, seu juíz, ele resolveu não apenas ser bom, cuidando de velhinhas e crianças abandonadas da rua, revertendo a ordem das coisas como elas devem ser, como também anda ensinando a classe subalterna a ler e escrever, veja só que escândalo!!! No que isso vai parar, meu Deus! Ops, falei a palavra proibida, me perdoe...

Refletindo no deserto

- Esqueça a sede. A água não existe! – pensou um turista raivoso e desesperado consigo mesmo.

- Como chegou a tal conclusão? Bem, é uma longa história.
Seu nome era Simão. Como se meteu naquela situação constrangedora? Bem, ele, que morava numa cidade grande superpovoada, com filas enormes de trânsito e todos os lugares imagináveis lotados de pessoas, sempre se interessou por desertos. Então, certo dia, ao planejar as suas próximas férias, viu uma promoção do governo do Egito e comprou um daqueles “pacotes” numa agência para conhecer o Saara com um grupo de turistas. Não que ele gostasse de excursões. Na verdade, preferia viajar sozinho pelo mundo, aventurando-se sem ninguém para incomodá-lo ou ameaçar sua liberdade. Mas como já havia ouvido coisas terríveis que aconteciam com turistas no deserto, pensou que talvez fosse mais seguro viajar com um grupo.

Já nos primeiros dias, ele que não era lá muito sociável, resolveu separar-se um pouco do grupo para observar um animal típico da região, que não podia deixar escapar da sua câmara. Por via das dúvidas, o guia turístico havia combinado o local de encontro do grupo daí a alguns minutos de exploração livre, próximo a algumas palmeiras que apontavam para um oásis mais adiante. Acontece que Simão também não tinha grande senso de direção e acabou se perdendo nas redondezas. Após perseguir o animal por algum tempo e finalmente conseguir tirar a foto, ele olhou em redor triunfante, supondo que os outros pudessem estar observando o seu feito.

Mas quando não viu nada além de dunas, passou-lhe pela cabeça que pudesse estar perdido. Depois de andar um pouco na direção que supunha ser oposta àquela que havia tomado atrás do animal, visualizou uma palmeira e correu esperançoso em sua direção. Mas logo viu que não podia ser o ponto de referência certo, pois não havia ali nenhum oásis. Não precisou muito mais do que isso para ele entrar em pânico e começar a correr sem direção para o nada. A paisagem era tão igual para todos os lados que parecia impossível ter um ponto de referência. E como ventava muito, sabia que não adiantaria seguir as próprias pegadas de volta. .Na verdade, esta possibilidade nem lhe havia passado pela cabeça, dado o estado de nervos em que se encontrava.

O sol queimava quente sobre sua cabeça. Parecia fritar-lhe os miolos e roubar-lhe a capacidade de pensar. O calor sufocante e a interminável areia pareciam penetrar nas suas narinas e pulmões. Impiedosas, elas irradiavam luz e calor, espantando qualquer tipo de sombra, condenada à morte antes mesmo de sua uma tentativa de formação. Como seria bonito aquele cenário em outras circunstâncias... De tão apavorado, Simão nem parou para admirar o fantástico o jogo de luzes refletidas de forma caleidoscópica pelas dunas. O que ainda o movia era a esperança despertada por cada nova duna de encontrar por trás dela a mais bela praia, repleta de turistas, uma infinidade de quiosques e vendedores de água de coco.

Como ele estava louco para encontrar uma sombra mínima que fosse, ao menos para descansar os pés que os sapatos já não davam conta de proteger da areia escaldante.

A cada passo que dava, mais se arrastava, e mais crescia a saudade de uma confortável rede estendia entre duas frondosas palmeiras e um copo de água gelada. Até então não havia se dado conta da maravilha que era a água, principalmente em estado líquido e refrigerado...

Neste espírito nostálgico, ele lembrou que havia tido ambas as coisas em abundância há poucas horas atrás, em sua casa e escritório sem jamais ter atentado para o seu valor. Mas agora, dizia sua mente ainda lúcida, tinha que ser frio e encarar o fato de que estava mesmo perdido. E que estava com sede, muita sede sem qualquer perspectiva de saciá-la. Então, a única saída era arrancar da sua mente qualquer pensamento ou associação ao abençoado líquido. “Esqueça a sede”, dizia a sua mente racional. “Esqueça, esqueça, esqueça a sede”, repetia, como se fosse uma ladainha ou marchinha de soldado.

Paradoxalmente, porém, quanto mais ele se esforçava por repetir essa ordenança, mais nitidamente surgia diante dos olhos de sua imaginação a imagem de um copo suado do precioso e gelado líquido.

Assim, o peregrino foi se conformando com o seu antes desconhecido ambiente, reparando nas pequenas diferenças entre uma formação de areia e outra. Era ao menos uma distração na sua saga pouco esperançosa. Esta experiência, que lhe trazia um lampejo de esperança no fim do horizonte da sanidade, fê-lo lembrar das há muito esquecidas palavras sábias de um beduíno que ele conhecera na sua infância. Dizia ele:

- Se por acaso um dia você se perder no deserto, não se impressione com o que você vir. O deserto pode ser um lugar horrível, mas somente para aquele que não o conhece a fundo. Na verdade, trata-se de um lugar incrivelmente maravilhoso, desde que você tenha os olhos certos. No fundo ele é um reflexo de você mesmo. Basta regá-lo que acabará encontrando o caminho certo, de retorno a si mesmo, que é o caminho para Deus. Estava aí todo o segredo. A miragem pode não ser tão boa, quanto o oásis de verdade, mas é melhor do que a alucinação.
Recordando estas palavras, nosso infeliz e desnorteado peregrino pensou:

- Agora que estou de fato perdido nesse deserto, terei ao menos a chance de testar as palavras de tantos sábios e profetas.
Infelizmente, porém, a cada passo que ele avançava, mais obscuras iam ficando as palavras esperançosas do beduíno. Com o tempo e o aumento da sede e cansaço, elas passaram a se tornar cada vez mais distantes, estranhas, obscuras e até sinistras.

Só podia ser ironia ou algum jogo! Era simples demais para ser verdade! Como alguém podia esperar que ele, pessoa esclarecida, pudesse dar crédito a miragens!
Com um esforço hediondo, ele expulsou todos os pensamentos improdutivos e que o faziam sofrer. Estava mesmo decidido a deixar para trás toda e qualquer esperança associada àquelas imagens enganosas e perigosas e conformar-se com a situação. Não valia a pena ficar sonhando com o bendito líquido, uma vez que ele não estava presente. Era melhor esquecê-lo o mais rápido possível. Afinal, quem sobreviveu à selva de pedra acharia um modo de viver ali, sem depender de água alguma. Se não tinha como saciar a sede, era preciso negá-la, juntamente com a água. As forças evolutivas certamente lhe dariam essa capacidade, por uma questão de sobrevivência e perpetuação da espécie.

E de fato, nessa nova empreitada, a cada hora que passava nessa peregrinação, mais remota se tornava a idéia de água ou qualquer coisa parecida, convencido que estava de que era preciso substituir toda e qualquer alusão à água ou bebidas por imagens “pé no chão”, como as de dunas e areia, levando em conta as circunstâncias em que ele se encontrava no momento.

Com isto, o viajante pegou passo firme e retomou à sua via dolorosa, em detrimento do peso da ausência do líquido bento. E conseguiu manter passo firme por bom tempo naquele estado de espírito resoluto, mas um tanto resignado. Como seria possível existir tal coisa misteriosa, que aqueles alquimistas supersticiosos chamavam de H2O? Porque ela não se revelaria, salvando-o daquela situação? Ficou quase envergonhado da quantidade de anos que Havia passado acreditando no que não poderia ser mais do que produto de sua imaginação. Como podia ter ficado tão iludido, cego diante dos fatos? Mas agora ele tinha um saber renovado, que ninguém podia lhe roubar. Agora era um iluminado, que via para além daquela paisagem árida e uniforme, das dunas e mais dunas sem fim...

Lembrou-se então de um dito que havia lido em algum lugar: “Nada há de novo debaixo do sol. Tudo é vaidade e correr atrás do vento”. Que grande verdade! Iludir-se com a idéia de água, sem dúvida não passava de vaidade. Todos estes pensamentos repetiam-se cruelmente e sem cessar, insistentes. Eram a mesmice e o tédio em pessoa. Quase levaram nosso turista à loucura.

Toda aquela beleza do crepúsculo só podia ser enganosa, pois quem é que poderia saber o que traria o amanhã? Caiu a noite. Nosso turista, de tanto cansaço, quase não foi capaz de reparar no céu magnificamente estrelado. Não obstante, o frio intenso o impedia de dormir. Nem mesmo a aurora de um novo dia foi capaz de renovar-lhe a esperança. Lá pelo meio dia, entretanto, sua sorte começou a mudar. Avistou ao longe a imagem distorcida do que lhe parecia o paraíso:

- Que maravilha! Parece que há um lindo oásis logo ali. Um lugar onde deve manar leite e mel.

Passado o entusiasmo da visão, entretanto, o turista recobrou seu antigo ceticismo, desconfiando de tanta felicidade. Começou a perguntar-se: seria aquilo realidade, ou outra daquelas ciladas e artimanhas da vida?
Tais reflexões reprimiram o seu primeiro ímpeto de sair correndo em direção à visão. Mas, felizmente, a lembrança das palavras do seu mestre veio-lhe de novo à mente, e agora com a conclusão:

- No deserto costuma ocorrer um fenômeno mais conhecido por miragem. Ao contrário do que pensam os que não aprenderam a conviver com as maravilhosas tragédias do deserto, a miragem não é produto de meros desejos ou alucinações absurdas, mas de uma realidade concreta. Ela pode não estar ao alcance da mão, mas lhe indica o caminho e renova a sua esperança. O oásis está aí, sim, mais concreta e objetivamente do que se possa imaginar, mas muito além do nosso cálculo racional.

Então depende de você arriscar-se a persegui-la ou não.
Munido destas sábias palavras e mais sedento do que nunca pela aridez que tinha tomado conta de sua mente, alma e imaginação, nosso peregrino fixou os olhos na sua miragem e, passo após o outro, ainda que trôpego, seguiu o seu caminho... E, a estas alturas, já deve ter chegado...

Conceição (in memoriam)

Era uma vez uma moça que nasceu em berço esplêndido. Conceição era filha única e herdeira do Doutor Rudy, um bem sucedido bancário. Mas não parecia ser muito feliz, pois só sabia trabalhar e vivia em função de um só objetivo: ganhar dinheiro. É claro que esse objetivo lhe rendeu várias coisas boas na vida: uma situação financeira privilegiada, uma família (quase) perfeita, funcionários comprometidos com o banco. Ele tinha prazer e orgulho não apenas de empregar pessoas e as sustentar, mas também proporcionar-lhes cultura e lazer, conforto, a melhor possível educação, coisas de que ele mesmo nunca havia desfrutado, nem passou a desfrutar depois de se tornar rico. Ele tinha prazer em liderar pessoas que dele dependiam em lhe mostravam dedicação e lealdade.
Sua esposa e filha, apesar de lhe serem muito gratas por todos os bens matérias que lhes legava, ressentiam-se de sua ausência quase que total do lar. Ele viaja muito e quando estava na cidade, gastava todo o tempo e mais um pouco para apagar fogueiras e dar conta do serviço atrasado. A situação piorou, depois da perda de sua esposa amada, Anamélia, vitimada pelo câncer, que dinheiro nenhum era capaz de derrotar.
Ao longo dos anos de idas ao médico, quimioterapias com perda de cabelos e de toda e qualquer forma de orgulho ela havia mais do que provado sua coragem e força, para além de todo aquele sofrimento. Dr. Rudy não teve como deixar de se culpar, não pelo que o devia envergonhar, mas por não ter se empenhado mais no trabalho para impedir tudo aquilo. Ele parecia não perceber que o trabalho faz tempo havia se tornado uma válvula de escape à qual aderia automaticamente, sem notar o absurdo de depositar nele poderes milagrosos.
Ao invés de aproveitar a oportunidade para se aproximar mais da filha, depois da partida de sua mulher, o empresário tornou-se ainda mais ausente da vida de Conceição, filha única assim chamada em homenagem à santa à qual sua mãe era devota. Se ela já recebia do bom e do melhor antes da morte da mãe, agora era ainda mais paparicada como legítima herdeira que era da fortuna de seu pai. Com a chegada da adolescência e seus problemas típicos, Conceição acabou se envolvendo com as pessoas erradas, que se aproveitaram de sua revolta contra o pai e toda aquela vida para criar um vínculo quase indissolúvel com ela.
Não demorou muito para ela se encantar com um jovem daquela “tribo”, que tinha como objetivo refutar toda a máquina capitalista pelo protesto “artístico”, um de seus líderes e começar a sair com ele. Depois de mais alguns meses, engravidou ainda na adolescência. Esse novo acontecimento serviu de motivo para mais humilhação, decepção e tristeza com seu pai, que não demonstrou a mínima compreensão ou compaixão pela situação em que viu sua filha. Como ele não acompanhava o que acontecia na vida dela, ficou em estado de choque ao ficar sabendo de tudo, quando ela já estava no quinto mês. Ele até havia brincado com ela que deveria parar de tomar tanta cerveja, batendo em sua barriga já protuberante.
Depois de se recompor um pouco, toda a vez que ele a avistava assim embuchada tinha vergonha e nojo e desaparecia. Se antes ele era ausente, agora ele agia com se Conceição estivesse com alguma doença contagiosa ou como se fosse uma morta-viva. Ele considerava o estado da filha uma ofensa incomensurável à memória de sua falecida. Ele nem quis saber quem era o pai (nem ele o sabia ou mostrara interesse) ou de que sexo era a criança, tamanho o amargor. Até que, pouco antes de chegada a hora de ela dar a luz, Dr. Rudy a chamou ao seu escritório para lhe comunicar que a estava expulsando de casa, praticamente com a roupa do corpo, além de deserdá-la, na tentativa desesperada de esquecer que sequer tinha uma filha.
- Mas pai não estou preparada para sobreviver e sustentar o nenê sozinha – soluçou ela, com a coragem que ainda lhe restara depois de tanta tortura emocional, pois ainda mal havia terminado o ensino médio. O dinheiro da herança ela queria mais é que o pai levasse junto com ele para o inferno. Seu maior problema era que não sabia ao certo como fazer para garantir uma gravidez tranqüila e um parto normal. Pois seu filho era a única coisa que lhe restava agora.
Mas quando viu que o pai já lhe havia dado as costas e batido à porta na sua cara, Conceição resolveu procurar uma parente distante que morava numa cidade também distante e que sabia que também era mãe solteira. Ela certamente teria compreensão e lhe ensinaria tudo que precisava saber para que tudo transcorresse bem. Quanto mais longe ela pudesse estar da cidade e consequentemente do seu pai, melhor.
Depois de fazer as malas aos soluços de decepção pela frieza e dureza do pai, ela foi comprar uma passagem com o resto de dinheiro que ainda tinha na carteira, para a cidade da sua parente, no interior da Bahia. Conceição lembrava que Anacleta, à semelhança de Conceição, havia engravidado na adolescência sem que o pai soubesse ou pudesse contar com o apoio dele. Desde então, ela havia sobrevivido e cuidado da sua filhinha sozinha, sem ajuda de ninguém. Certamente Anacleta seria muito mais compreensível do que os demais parentes ou “amigos” dela, que não passavam de bajuladores do Dr. Rudy. A decisão confirmou-se, quando ela conseguiu achar uma carta que a meia prima lhe havia enviado algum tempo atrás.
Arrastando as malas com alguns poucos pertences e algumas jóias que eram suas únicas posses, ela saiu pela porta dos fundos da sua ex-casa, dirigindo-se à rodoviária, que ficava a mais de cinco quadras dali, para se dirigir ao endereço da carta. O pai nem sequer havia oferecido carona do motorista para levá-la até lá, em consideração ao seu estado.
Depois de aproximadamente de\z horas de viagem por estradas esburacadas e muitos sacos cheios de vômito depois, ela finalmente chegou à rodoviária da cidade interiorana. Assim que chegou, procurou uma lista de endereços e usou o último cartão de telefone que lhe restara para ligar para Anacleta.
Do outro lado do Brasil, o pai de Conceição dava continuidade à sua vida mesquinha, repleta de compromissos e atividades de negócios e vida social. Eventualmente pensava na filha, mas pensava logo também na mãe e o quanto ela a havia difamado. Já havia se acostumado a empurrar pensamentos desagradáveis o mais longe possível, jogando-se desenfreadamente no trabalho.
Até que certo dia aconteceu algo inusitado: Dr. Rudy havia mais uma vez abusa do trabalho vindo a desmaiar de cansaço em cima de uma pilha de papéis sobre a sua escrivaninha. Ele se encontrava completamente só no escritório. Provavelmente isso se devia ao seu estresse e má alimentação. O fato é que quando despertou não se viu mais no escritório, mas encolhido e como que preso dentro de um saco escuro, em que ouvia diversos sons estranhos, que mais pareciam com ruído do mar ou o borbulhar de água fervendo. E o que era mais interessante: ele sentia como se estivesse imerso em algum líquido, mas não sentia falta de ar.
Toda a vez que ele tentava se esticar parecia que algo o prendia pelo umbigo. Com o tempo e a recuperação de sua consciência, cresceu o pânico e vontade louca de sair dali. Começou então a espernear feito desesperado até cansar.
Daí a mais algumas horas, começou a se auto-analisar e pensou: “Isso só pode ser castigo pelo que fiz com a minha filha. No fundo, ele se detestava por ter agido daquela forma. Admitia que fora por puro egoísmo, excesso de rigor e insensibilidade que havia agido assim. Na verdade estava mesmo era atemorizado feito uma criança, sem saber o que fazer daquela situação e procurando por culpados pela morte da minha querida Anamélia.” Esses e outros pensamentos foram agindo na alma e entranhas do magnata, até que o desespero se tornou em arrependimento até chegar à profunda contrição.
Depois de mais algum tempo, para o seu máximo terror, a bolsa em que ele estava preso pareceu romper-se e ele se viu como que arrastado pela correnteza, até se ver novamente preso. Depois de vazado todo o líquido, eis que uma luz surgiu em algum lugar acima da sua cabeça e ele sentiu como que umas mãos puxando-o pela cabeça e ombros. Para o seu terror, parecia que alguém o puxava através de um buraco e em mais alguns segundos, ele sentiu o impacto do frio do mundo lá fora, que passou a ver de ponta-cabeça, uma vez que alguém o pendurara pelos pés. As palmadas que sentia no traseiro nem teriam sido necessárias, pois de repente, ele sentiu uma irresistível vontade de chorar e gritar e aquele grito parecia lavar-lhe profundamente a alma. Parecia que ele estava respirando pela primeira vez.
Então ouviu uma voz grave e aveludada lhe dizendo:
- Você é o único do mundo que já ouviu, viu e sentiu com a mente de um adulto o que está vendo, ouvindo e sentindo. Mas lembre-se – continuou a voz - isso não faz de você nenhum Deus. Por alguns segundos – continuou a voz -, que certamente lhe pareceram horas, coloquei você no lugar do seu netinho que está nascendo nesse mesmo instante. Mas eu o advirto para que dessa vez ao invés de alimentar o seu ego, essa experiência deverá mover o seu duro coração a fazer justiça à vida. Portanto, vá e concerte o seu erro, pedindo perdão à sua filha, antes que seja tarde.
A voz esvaeceu e Dr. Rudy caiu novamente em sono profundo.
Quando abriu os olhos, viu-se novamente deitado sobre a pilha de papéis de sua escrivaninha. Assim que recuperou a consciência, pegou o telefone e disse à secretária:
- D. Silvia, por favor, tente fazer um contato com minha filha pelo celular que lhe dei de presente. E por favor, cancele todos os meus compromissos por hoje e pelo resto da semana, pois tenho uma importante dívida para pagar. Uma dívida muito maior acabou de ser paga por mim...

A palavra cruzada

por Gabriele Greggersen

Essa é a história da palavra cruzada. Na verdade, trata-se de uma brincadeira, ainda que com fundo sério. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. A palavra não é conhecida de ninguém, a não ser, da inventora da história. Mas ela não quer brincar de esconde-esconde com, você, leitor, pelo contrário, quer convidá-lo para participar da mesma, descobrindo a tal. Então a sua história ficou repleta de pistas para a mesma, mas de uma maneira, que quem faz uma leitura rasa, acha a história meramente interessante e esquece a palavra. Só quem sabe ler nas entrelinhas é capaz de descobri-la. Trata-se de uma espécie de palavra cruzada narrada, mas de uma palavra só.

Então, a primeira dica sobre a palavra é que ela é algo que todos já experimentaram ou estão experimentando e certamente experimentarão algum dia. Ela também já serviu de inspiração para poetas, músicos e toda espécie de artistas, mas também é bem popular entre a gente do povo. Portanto, ela tem seu lado bom e encantador. Mas pode crer que ela também fez muita lágrima rolar. E por falar nela – vamos tentar não falar muito, pois ela é muito, muito fácil de adivinhar, pois é companheira nossa de todo o dia. Umas horas a recalcamos, outras, nos damos conta dela, outras, mais ainda. Por isso existem mil e uma histórias sobre ela. Mas fique tranqüilo, pois vamos nos limitar a uma só, por hora.

Tudo começou, quando Aline se viu diante de um dilema. Ela havia fugido da casa de classe média alta aos doze anos, depois de uma briga com a mãe, que vivia com hematomas pelo corpo e olhos roxos graças ao pai que bebia e que ela sabia muito bem que batia nela, apesar de ela o saber esconder bem da vizinhança. Ela não gostava de ser enganada pelos pais e de ser filha de uma mulher covarde e um pai ainda mais.

Então ela resolveu ver o que mais havia para se ver no mundo. E já na primeira noite, parecia escrito nas estrelas, ela encontrou um grupo de ciganos circenses que a acolheram imediatamente, sem muitas perguntas, já que ela se mostrava muito ágil nas acrobacias, desde a primeira ensaiada. Ela também não teve dificuldade de aprender a leitura de mãos e os búzios. Parecia que Aline tinha a vida de cigana no sangue desde sempre. Então, toda aquela novidade de vida a fez esquecer praticamente de sua vida pregressa. Mas havia na comunidade circense uma senhora bem entrada de idade e muito sábia, que certa vez comentou com ela: “Você está decepcionada com os seus pais e encantada com a sua nova vida, mas virá o dia em que você sentirá falta deles. Então você os valorizará pelo que são”.

Dias se passaram e Aline se aprimorava visivelmente nas acrobacias e cartomancias. Parecia de fato ter nascido para aquilo tudo. E o que era melhor: sem necessidade de ir à escola. Ela também fez muitos amigos entre os filhos de ciganos, despertando ocasionalmente o ciúme de uma filha de sua mãe ou de uma namoradinha, pelo rapaz que não conseguia passar um dia sem se assegurar do seu bem-estar.

Depois de um mês e meio, entretanto, houve uma crise na comunidade: como sempre não tinham conseguido acordo com a prefeitura de nenhuma cidade pela qual passaram para passar uma temporada e não tinham para onde ir, e conseqüentemente, de onde tirar o seu sustento. Assim, havia bebedeira e discussões assoberbadas todas as noites, que geralmente acabavam em pancadaria. Então, Aline se lembrou das brigas em casa e pensou que pelo menos em casa a coisa ficava em família, sendo menos escandalosa.

Os dias foram se arrastando e as cenas se tornando mais e mais tristes, até que Aline tomou a decisão: voltaria para casa, sem se despedir de ninguém (detestava despedidas). O problema é que não tinha dinheiro nem sequer para tomar um ônibus. Então foi consultar a sábia e ela lhe disse:

- Aline, minha filha, finalmente você caiu na real. De fato você não tinha como ficar conosco. Você pode até se sentir cigana às vezes, mas não é. Você precisa da sua família e ela certamente está muito preocupada com o seu sumiço. Então tome, guardei um dinheirinho para esse dia. Vá e seja mais feliz do que os seus pais.

Aline pegou o dinheiro com um sorriso grato e deu um grande beijo na bochecha da velhinha e despediu-se com um abraço. Sem olhar para trás de novo, ela desapareceu na noite e chegou na frente da porta de casa na manhã seguinte. Quando ela tocou a campainha, sua mãe quase caiu de costas quando a viu. Ela achou que fosse um fantasma, pois já a considerava morta. Enquanto ela se recuperava do susto, seu pai apareceu por trás dela, de cara limpa e barba feita, perguntando: “Quem era, bemzinho?” Quando ele a viu, correu para cima dela e a jogou para o alto, agarrando-a nos braços.

- Onde foi que você se meteu esse tempo todo, sua levadinha? – perguntou carinhosamente.

- Ficamos tão preocupados com você que já não sabíamos mais o que fazer. –disse a mãe - Chamamos a polícia, os vizinhos, botamos anúncio no jornal e... – disse depois de uma pausinha encabulada – até o seu pai parou de beber e decidimos retomar o nosso namoro.

Aline entendeu tudo, deu um beijo no seu pai e na sua mãe e disse simplesmente:

- Estava escrito nas estrelas...

O brinquedo encontrado

Gabriele Greggersen

Em homenagem aos meus sobrinhos, que ajudaram a escrever essa história.

Os cinco meninos de uma família muuuito grande e que tinham somente um ano de diferença de idade entre si, se viram novamente em apuros certo dia, enquanto ainda estavam se organizando para mudar de vida. Sim, porque no outro episódio, uma caixa perdida quase pôs a perder o amor de sua mãe querida, que sofria até então com a bagunça e falta de organização dos meninos.

Depois aquele episódio, entretanto, todos os cinco, desde o de três, que mal sabia contar, até o de cinco, que já sabia escrever o nome, até o de sete, que já ia na escola e tinha seus amiguinhos por lá, mas nem por isso desgrudava dos irmãos é claro, todos eles decidiram se organizar. Pois noventa por cento da chateação que eles provocavam na mãe tinha a ver com essa mania deles bagunçarem tudo e não arrumarem nada. Eles também haviam reconhecido nessa importante experiência de vida que a sua falta de organização era um estorvo para eles mesmos.

Ou pelo menos era isso que eles estavam prestes a descobrir nesse novo e eletrizante episódio, que começou quando o irmão de sete anos, vamos chamá-lo de Ricardo, se dá conta do sumiço do seu brinquedo predileto: um robô de última geração. A sua primeira medida foi imitar o irmão de cinco anos, que tal chama-lo de Fabio, que havia organizado uma força tarefa entre os irmãos para vasculhar a casa atrás da caixa perdida. Então, ele chamou os irmãos e organizou uma equipe para achar o seu brinquedo. Embora com menos entusiasmo do que da outra vez, já que o maior interessado era o irmão mais velho, todos os irmãos se empenharam, mas nada de robô.
No final daquela tarde, já desanimado, Ricardo perguntou ao irmão um ano mais novo, que também gostava de brincar com o robô de vez em quando, quando foi a última vez que ele o havia visto ou brincado com ele.
Carlos disse que não lembrava, mas que tinha certeza que foi no dia em que houve uma pane geral na parte elétrica da casa e tiveram que chamar de novo o eletricista com sua caixa.

- Muito bem, disse Ricardo, o robô só pode ter ido parar na maleta dele, não acham? Por que aqui não está.

- Mas essa é só uma entre várias hipóteses, é claro, - ponderou Fabinho.

- Não me importa, tenho certeza de que foi lá que o robô foi parar, então, eu tenho um plano: Fabinho, você que é mais chegado a ele, vá passar um dia aprendendo as habilidades elétricas com ele e leve o Roy contigo, nosso irmão mais novo. Então, enquanto o Roy o distrai, entendeu Roy, brinca com ele, faz aquelas caras, você dá uma espiada na caixa dele.

- Não sei não, pois acho remota a hipótese, mas não custa. Vou ligar para ele.

A caixa perdida

por Gabriele Greggersen

(Em homenagem aos meus queridos sobrinhos que ajudaram a contar essa emocionante história)

Era uma vez uma família muuuito grande – para os padrões de hoje pelo menos. Era um pai, uma mãe em cinco filhos, meninos. Era, portanto uma família de sete cabeças.
Eles moravam num casarão bem antigo (pois as muitas bocas para sustentar não permitiam ao pai, que era vendedor de máquinas de costura, comprar uma mais nova).

O que os fez optarem pela casa também era a proximidade da escola pública, em que todos os cinco podiam estudar, sem que o pai tivesse que gastar dinheiro com gasolina ou ônibus escolar para levá-los.

Era engraçado ver aquela escadinha de meninos entrando em fila na sala. Sim, porque era o único raro em que eles ficavam em ordem, pois de resto, eram muito espoletas e desordeiros. O mais novinho de todos, que também era o mais comportado, ou por uma questão de caráter, ou, muito mais provavelmente, devido ao controle dos demais irmãos, ainda ia ao berçário, pois tinha três anos de idade. Seu irmão mais próximo tinha quatro anos de idade; o seguinte, cinco; o próximo seis; e o mais velho, sete anos de idade, o único a já ter passado pelo vestibulinho para a primeira série.

Ele era considerado o mais inteligente e responsável de todos os meninos, mas na verdade, era só esforçado, pois não era fácil manter aqueles irmãos bagunceiros em ordem. E ele tinha que tomar conta frequentemente deles, pois a mãe trabalhava como costureira e não tinha muito tempo para lhes dar atenção.

Certo dia, uma coisa terrível, mas muito terrível mesmo aconteceu. A mãe não era de reclamar: da bagunça dos meninos, da sua falta de organização, das suas travessuras, do sumiço que davam nas coisas e da sujeira que faziam, deixando tudo para a mãe limpar entre uma costura e outra.

E quando a mãe tinha algo para eles fazerem, como varrer o quintal ou lavar a louça, por exemplo, era sempre assim: pedia primeiro ao de sete anos; o de sete comandava o de seis; o de seis ordenava ao de cinco; o de cinco mandava o de quatro e o de quatro obrigava o de três, que só tinha o cachorro e o gato a quem recorrer que nunca se mostravam especialmente solícitos ou a fins de ajudar.
Mas naquela tarde, ouviram um grito agudo:

- Aaaaiiiiiiiii! Vocês podiam ter feito tudo, tudo mesmo, menos isso. Quem levou a minha caixa de costura? Eu costumo guarda-la a sete chaves de vocês desordeiros, mas hoje me distraí um pouco e ela desapareceu!!! Quem foi?? Quero uma resposta, já!!!

Todos os cinco irmãos se entreolharam estupefatos e sem saber o que dizer.
O de três anos olhou para cima, bem nos olhos do de quatro, que sacudiu a cabeça e olhou para cima, bem nos olhos do de cinco; que sacudiu a cabeça e olhou para cima, bem nos olhos do de seis; que, por sua vez, sacudiu a cabeça e olhou para cima, bem nos olhos do de sete; que desviou o olhar e ficou vermelho feito pimentão.

- Ppor qqque eeestão me olhando desse jeito? Gaguejou. – não tenho nada a ver com isso!!!!

Depois de alguns instantes constrangedores de silêncio e olhares escandalizados fixos no irmão mais velho feito sanguessugas, ele admitiu, deixando cair a cabeça:

- Ta bom, eu me lembro vagamente de uma caixa que estava em cima do sofá da sala, bem no meio do meu campo de batalha contra os extraterrestres e estava só atrapalhando. Sim, porque se tratava de um caso de vida ou de morte: era eles ou eu e a caixa no meio do caminho. Então, eu dei um jeito nela.

Os olhares tornaram-se ainda mais escandalizados, quase caindo para fora de suas órbitas, e os queixos ficaram tão caídos que quase alcançavam o chão nesse momento.

-Mmmas não me perguntem onde foi parar, pois não me lembro! – exclamou quase gritando e pondo os braços na frente da cabeça como que querendo se defender de um linchamento.

Depois de mais alguns minutinhos de silêncio mais cortante do que uma faca afiada numa mortadela bem gorda, o mais novinho disse:

- Então é isso aí, galera!!! Vamos ao trabalho! – exclamou batendo nas mãos como um treinador de futebol americano. - Vamos organizar uma busca. Seguinte: eu vou sair com o tonto do meu irmão mais velho; o de quatro anos sairá com o de seis e o de cinco, que é o mais criativo e multifuncional de todos, sairá sozinho, cada um para um lado, procurando, procurando!

Todos se alvoroçaram e já estavam indo para a direção indicada pelo “líder” quando o mesmo exclamou:

- Pérai! Mais uma coisa: Mamãe está muito chateada conosco. Tão chateada que nem cozinha mais aquelas comidinhas maravilhosas para nós. E nós é que ficaremos chateados com isso logo, logo. Então, vamos aproveitar para fazer uma surpresinha para ela: enquanto procuramos, arrumamos todas as nossas bagunças.

- YES! – todos gritaram – só isso vai nos redimir diante da mamãe. Grande idéia, maninho!

E todos saíram, cada um para um lado, olhando em baixo do tapete, atrás do sofá e das cortinas, até que recolheram e organizaram todos os seus brinquedos nas suas gavetas respectivas.

Quando voltaram, reuniram-se num círculo e o mais novo disse:

- Temo ter que lhes dizer que nosso plano fracassou: vasculhamos tudo e nada! – a propósito, será que sabemos o que estamos procurando? Como era mesmo essa tal caixa mano mais velho?

- Bem, na verdade, na verdade, ela nem parecia uma caixa de costura e, sim, de ferramentas de eletricista. Minha sorte foi olhar lá dentro, temendo se tratar de uma armadilha malevolamente posta ali pelo inimigo, depois de encostar meu ouvido nela, como bom combatente é claro. Era muito provável que se tratasse de uma bomba, não é? Já pensaram?

Todos fizeram que sim com a cabeça até que um parou e gritou:

- Ei, eu vi um eletricista por aqui outro dia, não foi no mesmo em que o nosso manão espertalhão aqui deu chá de sumiço na caixa?

- É mesmo - disse o habilidoso de cinco anos. Eu até o ajudei a encontrar o problema na casa. E anotei o telefone dele para manter contato e aprender mais com ele. Vamos ligar e ver o que acontece.

Foi o que fizeram:

- O quê?! –berrou o eletricista do outro lado – Graças a Deus! Crianças espertas! E eu estava sem poder trabalhar esses dias todos, limitado que estava a um monte de agulhas e linhas e dedais! Louvado seja!

Depois de esclarecida toda a confusão da caixa desaparecida, até o comportamento dos meninos, transformados em heróis da noite para o dia, mudou. De desordeiros e arruaceiros desorganizados, eles se tornaram um pouco mais arrumadinhos, não tanto como os seus colegas de sala mais chatos, mas muito melhores do que antes. E a mamãe agradeceu.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

C.S. Lewis e a imaginação

Por Julie de Pádua
http://juliediz.blogspot.com/2009/07/cs-lewis-e-imaginacao.html?showComment=1249046453291#c3082941854588767319

TODAS AS FRASES EM ITALICO FORAM RETIRADAS DO LIVRO O IMAGINÁRIO EM AS CRÔNICAS DE NÁRNIA.*

"O leitor interessado na obra de C.S Lewis vai deparar com discussões que o conduzirão a um enfrentamento intelectual."

Essas são palavras do Mestre e Doutor em Lingüística João Batista Costa Gonçalves no prefácio do livro "O imaginário em as Crônicas de Nárnia" do Pastor Professor Advogado e Mestre em Direito Público Glauco Barreira Magalhães Filho.

Ler C.S Lewis é uma aventura, é um convite a abrir a mente. Verdadeiramente nada fácil, mas é um desafio que eu digo sim !

C.S Lewis foi poeta, filósofo, apologista cristão, escritor, professor e crítico literário. Embora polígrafo – escreveu sobre filosofia, poesia, crítica literária, literatura fantástica e ficção científica –, foi sua produção no campo da literatura fantástica que mais ganhou destaque. Através de figuras tradicionais dos contos infantis, o evangelho pode ser apresentado às crianças.

Utilizando-se de imagens oriundas da mitologia grega e nórdica, e dos contos de fadas, Lewis sempre procurou transmitir os valores cristãos em seus escritos. Foi grandemente influenciado pelas obras de George MacDonald, que escreveu sobre a importância da fantasia, e G.K Chesterton, que destacou a influencia moral positiva dos contos de fadas. Tanto MacDonald como Chesterton sempre professaram a fé em suas obras.

Lewis foi ainda amigo pessoal de J.R.R Tolkien, autor da conhecida obra O senhor dos aneis, adaptada também para o cinema. Tolkien pertencia aos Inklings, um grupo de catedráticos que discutia filosofia, literatura e mitologia, ao qual Lewis também se associou, em 1939.

O Pastor Glauco conta na introdução do livro algo que se Lewis estivesse vivo, certamente diria: missão cumprida. O Pastor conta que quando assistiu ao desenho O leão, a feiticeira e o guarda-roupa , ainda não era cristão mas a mensagem cristã subliminar contida no desenho entrou no inconsciente e passou a integrar o conjunto de fatores implícitos que contribuíram para conduzi-lo a Cristo. Isso é sem dúvida um acontecimento maravilhoso!

A seguir pretendo elaborar uma síntese das ideias contidas no livro do Pastor Glauco, mas especificamente nas palavras que compõem apenas a introdução.

A ciência tenta explicar a fé, muitos levantam argumentos contra o cristianismo, procuram refutar as doutrinas cristãs com argumentos que presumem ser racionais, mas a realidade é que as necessidades mais profundas do ser humano não podem ser traduzidas em linguagem científica. As respostas que estão ao alcance da razão não são satisfatórias. A Bíblia traz promessas que devem ser recebidas por fé. Elas falam de um suprimento espiritual que só pode ser comunicado por figuras e metáforas, ou seja, pela transposição o sentido literal de uma palavra para o sentido figurado.

A imaginação faz parte do homem, muitas pessoas tomam decisões com base em pensamentos como: imagine só se tal coisa acontecesse... ou, estava imaginando como seria a minha vida se eu tivesse feito tal coisa... e assim por diante. O ser humano é um ser imaginativo e por isso que dentro das igrejas a pregação precisa ser acompanhada mais pela imaginação do ouvinte do que pela razão. Cresceríamos muito, penso eu, se os pregadores entendessem que pregar o evangelho envolve também a tentativa de despertar a criança adormecida em cada pessoa. Podemos nesse sentido lembrar-se da passagem de Mateus 18.3: "e disse: Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus" e também Lucas 18.17 "Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como criança, de modo algum entrará nele."

O Pastor Glauco trás em seu livro uma fala interessantíssima de Lewis: "O homem imaginativo em mim é mais velho, mais continuamente ativo e, nesse sentido, mais fundamental que qualquer um dos outros, o religioso e o crítico. [...]. Também é claro que foi ele quem me levou, nos últimos anos, a escrever a série de contos narnianos, destinados às crianças; não porque eu estivesse preocupado com o que elas queriam ouvir, ou que me comprometeria a fazer adaptações [...], mas porque o conto de fadas foi o melhor gênero literário que encontrei para expressar o que pretendia dizer".[i]

Sou suspeita para afirmar qualquer coisa a respeito da grande maravilha que é ter C.S. Lewis e toda a sua obra ao meu lado, ao lado de Jesus. Sinto-me privilegiada por isso, e muito grata a Deus. A forma que as Crônicas de Nárnia foram tomando ao momento que foram sendo escritas, revela, pelo menos a mim, a grandiosa mente de Deus. Deus é um ser extremamente criativo, Jesus era um contador de histórias e ter isso a nosso favor é ter a oportunidade de navegar os mares da imaginação.

Sendo assim, para finalizar esse minúsculo texto, o primeiro de alguns que viram se Deus quiser e eu me esforçar, uso novamente as palavras do Pastor Glauco: Devemos, pois, cingir os lombos com a verdade. Na Bíblia a palavra lombo simboliza fertilidade e, nessa citação, ela remete à fertilidade da mente. Deus não condena, portanto, a imaginação criativa no campo religioso, afinal ela consiste num dos traços da imagem e semelhança que temos com aquele que fez o céu e a terra. [...]. O importante é que nossa imaginação esteja cingida com a verdade, isto é, comprometida com o evangelho. [...]. A imaginação é, portanto, uma faculdade que faz parte do tudo que há em nós que deve glorificar e bendizer ao Senhor.

Com prazer,

Julie F. de Pádua

17.07.09 – 17h52

[i] W. HOOPER, Letters of C.S. Lewis, p. 444.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Novo livro lançado

Veja lançamento de Adriana Torquatto (ex-orientanda) "Era Uma Vez", http://www.mundocristao.com.br/produtosdet.asp?cod_produto=10645&cod_categoria=160, Editora Mundo Cristão.